11.03.2020 Views

REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que há disputa territorial, as relações mudam entre indígenas e proprietários rurais. De vizinhos,

amigos e empregados, os Terena que participam de movimentos de reivindicação de terra,

convertem-se em adversários indesejáveis dos proprietários da região.

Nas situações em que emergiram disputas de terra entre indígenas e fazendeiros, o

discurso de muitos purutuya se inverteu. A esse respeito argumentou o Terena Armando

Gabriel, da Terra Indígena Buriti:

Nós sabemo que os fazendeiro desvaloriza a condição do índio. Que [dizem que] o

índio não trabalha. Mas nem tanto assim, nessa redondeza dessa aldeia tudo o serviço

que se vê aí é o braço do índio, né? Chamam o índio até hoje. É o valor do índio

fazendo o serviço pro fazendeiro. Assim o fazendeiro fala que o índio é preguiçoso,

não faz nada. Isso aí desvaloriza a condição do índio (Armando Gabriel, Terena, 85

anos, 2003, apud XIMENES, 2011, p. 76).

Ao encontro dessa questão, Vargas (2011), pontua que predominaram três

concepções acerca dos Terena. A primeira, datada do século XIX, remetia à imagem de

docilidade e de disposição para colaborar com os objetivos do Império. A segunda, disseminada

a partir do século XX, foi uma extensão da anterior e considerava-os como exemplo de êxito

para os propósitos de assimilação do SPI. Predominou enquanto os Terena permaneceram como

empregados nas fazendas. A terceira concepção emergiu ao disputarem terras com os

fazendeiros que se estabeleceram nos territórios antes ocupados por eles. Assim, “suas

qualidades foram esquecidas” e passaram a ser considerados como “índios preguiçosos,

bêbados, desobedientes, passando do ‘índio ao bugre’, que resumia todos os termos pejorativos

pelos quais passaram a ser identificados pelos fazendeiros” (VARGAS, 2011, p. 129).

Portanto, a partir dos anos 1990, os fazendeiros cujas propriedades incidem nas

áreas litigiosas ou mesmo os que têm fazendas nas proximidades tenderam a não oferecer mais

os antigos postos de trabalho aos Terena, contribuindo com a crise da oferta de emprego, mais

tarde agravada pelas mudanças estruturais da indústria canavieira. Eremites de Oliveira e

Pereira (2012), apontam essa situação no entorno da Terra Indígena Buriti:

Depois de deflagrado o conflito, a partir de 1999, algumas famílias que trabalhavam

em fazendas da região e lá residiam temporariamente foram dispensadas e retornaram

aos 2.090 ha. Os fazendeiros também deixaram de contratar a mão de obra dos índios

para serviços temporários. Alguns desses índios se opõem às reocupações porque esse

processo resultou na perda de seus empregos e na quebra da relação de amizade que

tinham com alguns fazendeiros (EREMITES DE OLIVEIRA E PEREIRA, 2012, p.

204).

Uma entrevista transcrita pelo pesquisador Jorge Luiz Gonzaga Vieira (2006),

revela situação semelhante em Miranda no entorno da Terra Indígena Cachoeirinha. Na época,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!