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Em 1977, Andujar foi expulsa da terra Yanomami pela Funai, já que sua atuação
política estava incomodando a ditadura. Depois desse ocorrido, passou a engajar-se ainda mais,
publicando livros, levantando fundos e denunciando mortes. Em 1978, montou a Comissão Pela
Criação do Parque Yanomami, ao lado de Bruce Albert e de Carlo Zacquini, missionário que
vivia com os Yanomami. Mais tarde, os antropólogos Carlos Alberto Ricardo e Alcida Ramos
juntaram-se a CCPY.
Depois de muita insistência, em agosto de 1978 Andujar conseguiu autorização para
retornar ao território. O período marcaria um outro tipo de imagem, tanto do ponto de vista do
conteúdo como na forma de sua circulação. “Estudar uma cultura em meio à destruição dessa
cultura por forças externas é difícil do ponto de vista prático e teórico” (p. 237) – escrevia em
carta de 1979 enviada à Fundação Guggenheim justificando que passara a dividir o tempo entre
a fotografia e a luta pela criação do Parque.
Num segundo momento do catálogo, aparecem registros da devastação sofrida pela
violenta ação dos brancos, com imagens resultantes dos conflitos com garimpeiros (em meio à
construção da rodovia Perimetral Norte) e da entrada das missões religiosas, provocando
diversas epidemias. Também estão presentes imagens do projeto de saúde organizado por
Andujar nos anos 1980, quando mobilizou órgãos internacionais para uma grande campanha de
vacinação por todo o território. Como os Yanomami não possuíam nomes fixos que pudessem
garantir a identificação nas fichas de cadastro, sua ideia foi numerar os retratos, pendurando
uma pequena placa no pescoço de cada pessoa atendida.
Anos depois, ao ver essas imagens, Andujar lembraria da primeira vez que pensou
que alguém pudesse ser marcado para morrer: em sua adolescência, vira a família paterna e os
amigos de escola carregando a estrela de Davi costurada no peito. “É esse sentimento ambíguo
que me leva, 60 anos mais tarde, a transformar o simples registro dos Yanomami na condição
de ‘gente’ – marcada para viver – em obra que questiona o método de rotular seres para fins
diversos” (p. 242). Essas imagens dariam origem à série Marcados (1981-84), um dos mais
importantes trabalhos da fotografia brasileira.
Se o lançamento de Claudia Andujar: a luta Yanomami ganha dolorosa atualidade
diante do momento político, creio que sua grande contemporaneidade se dá pelo fato de
encontrar-nos ainda sob o impacto de A queda do céu, livro do xamã yanomami Davi
Kopenawa, escrito em parceria com Bruce Albert. Os ensinamentos de Kopenawa sobre os
xapiri (ancestrais animais ou espíritos xamânicos) estão cheios de referências à luminosidade e
ao brilho, já que a qualidade primordial da percepção dos espíritos é sua intensidade luminosa.