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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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grifo nosso) certa vez, refletindo sobre os papéis do pajé da tribo, que este pode ser designado

como quisermos: “feiticeiro, psiquiatra ou, simplesmente, intelectual, ele é tudo isso.” Portanto,

as sociedades indígenas sempre possuíram seus intelectuais, mas sempre dentro da sua esfera

cultural. A novidade é a presença e o protagonismo dos povos originários nas modalidades

intelectuais do dito homem “branco”, como é o caso dos Terena.

Os Terena têm atualizado e elaborado novas estratégias de enfrentamento em

praticamente todas as dimensões da sociedade nacional, demonstrando, como já dito, sua

extraordinária capacidade de absorção e uso, a seu favor, dos códigos culturais daqueles com

quem interage. Nesse sentido, o aumento do número de representantes da etnia Terena que

acessam as universidades de todo o País é um indicativo de que novos tempos se avizinham no

que diz respeito às formas de resistência pensadas para fazer frente às arbitrariedades dos

membros da sociedade envolvente.

São muitos os Terena que possuem curso superior atualmente, atuando em várias

áreas do conhecimento, tais como Direito, História, Antropologia, Sociologia, Engenharia,

Pedagogia, Letras, Geografia, dentre outras. Conforme Dal Bó (2018), o estado de Mato Grosso

do Sul é uma das unidades da federação que mais possui indígenas estudando em cursos

superiores no Brasil, e os Terena constituem uma quantidade significativa desse quantitativo.

Inicialmente, o acesso ao ensino superior restringia-se às licenciaturas, isso porque havia a

necessidade de atendimento, por parte das unidades da federação, das exigências da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (LDB, lei n. 9394/96), cujo texto impõe de maneira compulsória

a formação de professores de forma abrangente, incluindo os indígenas (BRAND;

NASCIMENTO, 2008).

A maioria desses estudantes passam por inúmeras dificuldades para poder concluir

o curso, mas continuam seus estudos movidos por um compromisso tácito assumido com suas

comunidades, sabedores que o domínio cada vez maior e mais apurado dos códigos valorizados

pela sociedade envolvente, ferramentas científicas e tecnológicas, “[...] permite discutir de igual

para igual com os governos um planejamento de políticas públicas indígenas condizente com a

realidade.” (TERENA, 2007, p. 1). Nas palavras de outro indígena Terena: “Para nós,

pesquisadores indígenas, a única razão de deixar a aldeia e ingressar na universidade é ter a

certeza que poderemos nos apropriar desses ‘ditos conhecimentos científicos’ e de alguma

maneira usá-los em prol de nosso povo” (ELOY AMADO, 2017, p. 84).

Mas a apropriação desses códigos passa também por um desejo de maior

interlocução entre os saberes ocidentais e ameríndios, numa busca constante de fortalecimento

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