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Infelizmente, a população Xakriabá tem um índice alto de suicídios, especialmente entre jovens
e mulheres. Sabemos que o que precisa ser feito é muito mais do que um momento festivo para
combater o suicídio, que é uma questão de saúde pública em nosso povo e também entre outros,
mas avaliamos que esse momento tem sido uma estratégia interna muito importante de
prevenção do adoecimento psíquico e do suicídio, porque proporciona alegria às pessoas e
renova os laços de pertencimento comunitário. Essa possibilidade foi apontada pelo pajé da
Aldeia Catinguinha, e desde então temos pensado maneiras de fortalecer essas atividades junto
às comunidades.
O compartilhamento da vida em comunidade também funciona para nós como um
alimento. Da mesma forma, quando nos é negada a terra é como uma arma que também
extermina o nosso povo. A cultura alimenta a alma, a agricultura alimenta o corpo, a
comunidade alimenta a vida bem vivida. As experiências desenvolvidas em torno da
alimentação circulam no território Xakriabá. Embora não seja muito comum a utilização dos
conceitos segurança alimentar ou soberania alimentar nas narrativas do nosso povo, os
Xakriabá trazem outras concepções, como a da autonomia alimentar. Aqui, oportunizo um
diálogo e coloco em evidência as contribuições dos povos indígenas nas práticas de produção
alimentar tradicional como forma de resistência contra o projeto econômico de sociedade que
temos em nosso país, em que o ato de se alimentar produz efeitos, resultando no adoecimento
corpo, da cultura e do território. Nesse contexto é muito importante o papel das mulheres na
manutenção dos nossos hábitos alimentares e da nossa agricultura. Para comer com dignidade
precisamos garantir a autonomia alimentar de quem planta sem veneno, valorizando a
agricultura familiar, cada povo e seus territórios. Nas mãos que plantam muitas sementes, que
na terra fazem germinar, é que se mantém a tradição presente no paladar.