11.03.2020 Views

REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Infelizmente, a população Xakriabá tem um índice alto de suicídios, especialmente entre jovens

e mulheres. Sabemos que o que precisa ser feito é muito mais do que um momento festivo para

combater o suicídio, que é uma questão de saúde pública em nosso povo e também entre outros,

mas avaliamos que esse momento tem sido uma estratégia interna muito importante de

prevenção do adoecimento psíquico e do suicídio, porque proporciona alegria às pessoas e

renova os laços de pertencimento comunitário. Essa possibilidade foi apontada pelo pajé da

Aldeia Catinguinha, e desde então temos pensado maneiras de fortalecer essas atividades junto

às comunidades.

O compartilhamento da vida em comunidade também funciona para nós como um

alimento. Da mesma forma, quando nos é negada a terra é como uma arma que também

extermina o nosso povo. A cultura alimenta a alma, a agricultura alimenta o corpo, a

comunidade alimenta a vida bem vivida. As experiências desenvolvidas em torno da

alimentação circulam no território Xakriabá. Embora não seja muito comum a utilização dos

conceitos segurança alimentar ou soberania alimentar nas narrativas do nosso povo, os

Xakriabá trazem outras concepções, como a da autonomia alimentar. Aqui, oportunizo um

diálogo e coloco em evidência as contribuições dos povos indígenas nas práticas de produção

alimentar tradicional como forma de resistência contra o projeto econômico de sociedade que

temos em nosso país, em que o ato de se alimentar produz efeitos, resultando no adoecimento

corpo, da cultura e do território. Nesse contexto é muito importante o papel das mulheres na

manutenção dos nossos hábitos alimentares e da nossa agricultura. Para comer com dignidade

precisamos garantir a autonomia alimentar de quem planta sem veneno, valorizando a

agricultura familiar, cada povo e seus territórios. Nas mãos que plantam muitas sementes, que

na terra fazem germinar, é que se mantém a tradição presente no paladar.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!