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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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aldeia era aberto um crédito no mercado do distrito de Taunay que fica a 3 km de

distância, para que suas famílias pudessem fazer compras. No final de cada mês o

“cabeçante” chegava para pagar um pouco o mercado e o acerto total era feito só

quando os trabalhadores retornavam. Permaneciam com suas famílias por uma

semana e para voltar para usina recebiam um adiantamento em dinheiro equivalente

a dois salários mínimos, ou seja, saiam em débito com o patrão, não recebiam nenhum

tipo de direito trabalhista assim com o 13º salário, férias ou Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço (FGTS) (GOMES, 2016, p. 6).

Como pode ser percebido pelo fragmento, as relações de trabalho eram precarizadas

e os Terena não tinham garantidos nenhum direito trabalhista. Gomes (2016), cita um

personagem importante que surgiu nas décadas de 1970/1980 no recrutamento de mão de obra

temporária, especialmente para os canaviais: o cabeçante.

Conforme Salvador (2012, p. 68), antes os trabalhadores indígenas eram recrutados

por um empreiteiro; depois “as usinas passaram a negociar, portanto, diretamente com os

indígenas, sem que se dispensasse a figura de um líder para a equipe de trabalho. Na relação

entre índios e usinas desaparece a figura do empreiteiro e surge a figura do ‘cabeçante’”,

necessariamente um indígena.

A diferença entre esses dois papéis é que o cabeçante de turma não é representante

apenas do empregador, é também um líder não só no local de trabalho, mas na própria aldeia

ou Reserva. Além da liderança, outros requisitos são importantes para desempenhar essa

função, como, certo domínio da escrita e habilidade de negociação. Dessa forma, o cabeçante

precisa dominar os códigos de conduta, tanto do seu grupo étnico, quanto dos purutuya.

Para Salvador (2012, p. 68), esse é um indício da especificidade das relações de

trabalho envolvendo os indígenas, ou seja, da “etnicidade na construção do campo das relações

de trabalho agroindustriais onde aparece (numa posição ambígua) como representante dos

indígenas e da usina ao mesmo tempo”.

As mudanças no setor sucroalcooleiro, notadamente nas últimas décadas,

resultaram em uma crise estrutural na oferta de emprego para os indígenas no Mato Grosso do

Sul, crise essa, agravada por questões políticas que permeiam as relações entre indígenas e

proprietários rurais no estado, como será discutido no próximo item.

A MÃO DE OBRA TERENA NA ATUALIDADE E A CRISE ESTRUTURAL E POLÍTICA

NA OFERTA DE EMPREGO

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