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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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vai legitimar esse derramamento de sangue, esse massacre, genocídio, ataque

paramilitar que expulsa indígenas das suas terras. Vai legitimar e vai afetar todos os

povos, os quilombolas, aqueles que estão realmente defendendo o pequeno espaço

para nosso sustento e nossa sobrevivência. Com nossos Deus, nossos xamãs e nosso

criador do universo nós vamos conseguir nossos objetivos.

Estamos na luta e não vamos desistir, porque estamos em guerra. Já resistimos há mais

de 500 anos. Querem acabar com a nossa cultura, querem acabar com a nossa língua,

querem acabar com o modo de ser indígena. Mas até hoje estamos mantendo a nossa

língua, a nossa tradição, a nossa reza, o nosso canto. Devastaram nossos matos e

nossos rios. Mas estamos vivos (Eliseu Lopes Guarani-Kaiowá, para a Rádio Yandê,

agosto de 2017).

Entendemos, como nosso parente, que por muito tempo a tutelagem foi (e será) uma

estratégia do Estado, uma estrutura política de controle de nossos corpos-territórios, de forma

que fôssemos confinados não apenas em nossos territórios - quando estes são violentados pelos

processos de demarcação inconclusos ou colocados sob risco e suspeição - mas também de

nossa mentes, nossas expressões ancestrais e por fim, de nossa identidade. No entanto, em meio

a esse histórico de tutelagem, emergem inúmeras expressões que podem ser caracterizadas

como práxis de resistência dos povos indígenas, que se sobrepuseram às opressões históricas e

contemporâneas de tutelagem. Para nos aproximarmos epistemologicamente deste debate,

apresento algumas expressões subversivas ao processo de tutelagem que ocorreu no povo

Xakriabá, destacando aspectos relacionados à identidade ligada à alimentação, aos

aprendizados decorrentes da elaboração dos projetos, à atuação na política externa e aos

trabalhos acadêmicos de autoria indígena.

SABERES E SABORES PRESENTES NO TERRITÓRIO XAKRIABÁ: A SEMENTE QUE

NOS ALIMENTA E SUSTENTA A NOSSA IDENTIDADE

A Semente que nos Alimenta e Sustenta a Nossa Identidade.

Saberes, sabores, sementes: o alimento que alimenta a cultura xakriabá

Ser,

De ser mente

Ser semente

E não deixar ser somente.

A semente não apenas nos alimenta,

A semente também sustenta o território.

(Célia Xakriabá, 2018)

Me recordo quando tinha sete anos de idade, logo que eu tinha entrado na escola, e

em uma das aulas a nossa professora nos perguntou o que queríamos ser e ter como profissão

quando crescer. Toda turma respondeu, alguns disseram que queriam ser médicos, outros

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