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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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deste povo, o Estado e a sociedade envolvente, não pouparam esforços na espoliação do seu

território e na tentativa de apagar sua distintividade étnica.” Contudo, apesar das relações

amistosas que mantinham com o Estado e seus representantes, os Terena mantinham sua

dignidade e seu espírito independente, já que “nem sempre aceitaram as determinações dos não

índios, ou quando aceitaram, agiram de acordo com estratégias próprias.”

Essa insurgência dos Terena contra as determinações de caráter arbitrário ou

contrárias aos seus interesses dão a tônica da posição estratégica dos Terena em relação à

sociedade envolvente e sua influência na realidade sociocultural indígena. Um episódio descrito

por Vargas demonstra a utilização, por parte dos indígenas terena, dos símbolos de poder

próprios da sociedade nacional. Vargas descreve que depois do fim da Guerra da Tríplice

Aliança eles cobraram das autoridades a posse de suas terras e:

Para fazer suas reivindicações junto ao diretor dos índios, relatavam a situação da

invasão de suas terras e da desorganização destas, em função da referida guerra. No

encontro com o poder, iam revestidos dos direitos de capitão e vestidos como alferes,

conotando uma reunião de autoridades (VARGAS, 2003, p. 72).

forma:

Tais símbolos de poder foram interpretados por Vargas (2005, p. 7) da seguinte

Esses símbolos do poder da insígnia e da farda, transvestiram-se na positividade da

posição de dóceis e mansos. O título e a farda eram as provas que os diferenciavam

das outras etnias indígenas e os colocavam em igualdade com os brancos. Tanto é

verdade que, para fazer suas reivindicações junto ao Diretor dos índios, relatavam a

situação da invasão de suas terras e da desorganização destas, em função da referida

guerra.

O uso de códigos de conduta próprios das sociedades com as quais interage faz

parte das estratégias dos Terena no que tange à sua composição interétnica. Um sistema

interétnico pode ser definido como um “sistema de relações sociais e simbólicas que resulta da

convivência” entre dois ou mais grupos étnicos (BRANDÃO, 1986, p. 46). Um grupo étnico é,

como o define Nascimento (2012), a partir da leitura de Barth 26 (1969), um agrupamento de

indivíduos que se identificam uns com os outros, ou são identificados por componentes de

26

A respeito das teorias de Fredrik Barth sobre etnicidade, ver: Los grupos étnicos y sus fronteras: la

organización social de las diferencias culturales. Disponível

em:http://www.cedet.edu.ar/archivos/Bibliotecas_Archivos/id40/Barth-Los-grupos-etnicos-y-sus-fronteras.pdf

Acesso em: 12 mar. 2019.

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