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processo não ocorria apenas porque os Terena desejavam, mas porque a sua
organização e a sua produção atendiam às expectativas do SPI. Essa situação
demonstra a sua reorganização dentro das reservas: permaneciam com os núcleos
familiares, obedeciam a sua estrutura patriarcal, as suas plantações não se misturavam
com as de outros grupos familiares e utilizavam a estrutura oferecida pelo Posto para
finalizarem sua produção (VARGAS, 2011, p. 124).
Essa autora ainda destaca que a produção era comercializada por eles mesmos nas
cidades de Aquidauana, Miranda e Nioaque. Dessa forma, o estabelecimento das Reservas não
impediu a continuidade de antigas práticas terena de manter relações de comércio com os
purutuya. Os indígenas eram “abastecedores de gêneros alimentícios” e “consumidores dos
produtos de que necessitavam comprados nos antigos bolichos da região” (VARGAS, 2011, p.
124).
As terras das Reservas também forneciam ao entorno recursos naturais importantes,
pois de acordo com as palavras de Cardoso de Oliveira (1976, p. 96), os Terenas eram
conhecidos “como peritos na difícil arte de extrair a casca de angico sem estragá-la”, e apesar
dos estereótipos já recorrentes sobre os indígenas, os fazendeiros reconheciam sua importância
como mão de obra:
Dessas modalidades de trabalho são insubstituíveis nas tarefas extrativas, para as
quais desenvolveram uma técnica primorosa, aliada à grande resistência que
demonstram em uma atividade das mais penosas. É voz corrente em Mato Grosso, de
que não há “melhor casqueiro” que o Terena. Numa “mesa-redonda” que organizamos
em Duque Estrada, em 1955, pudemos ouvir depoimentos de três fazendeiros,
unanimemente favoráveis ao índio como trabalhador, apesar de inicialmente haverem
procurado diminuir seu valor, só mudando de atitude e pondo de lado os estereótipos
depois de cerrada discussão entre si, por nos estimulada. Concordaram finalmente que
o Terena é o braço da região e, mesmo o braço mais desejado: “trabalha bem, vive
com pouco, e é muito obediente” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1976, p. 125)
Garcia (2008, p. 81), explica que “as cascas de angico [eram] produto muito
valorizado, pois, sua resina tem aplicações industriais e medicinais, usadas especialmente no
combate à bronquite”; e acrescenta quanto à madeira que os indígenas “eram contratados por
empreiteiros para derrubar as árvores, rachar a madeira em toletes e transportá-la do cerrado,
de onde era retirada, até o ponto de embarque nas estações ferroviárias”. Portanto, os próprios
Terena trabalhavam na extração desses recursos que serviam inclusive para abastecer as
locomotivas a vapor da Ferrovia Noroeste do Brasil, como aponta Ximenes (2017).
A MÃO DE OBRA TERENA NAS USINAS SUCROALCOOLEIRAS