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EXAME Moz 86

Edição de Março da EXAME, com tema de capa sobre a CTA, dossier sobre a nova lei laboral e um especial inovação com ênfase, nesta edição, na importância do ensino para a promoção da inovação

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A ORGANIZAÇÃO

DOS TRABALHADORES

DE MOÇAMBIQUE

CONSIDERA

QUE A PROPOSTA

DO EXECUTIVO

CORRESPONDE

AO ACORDO POSSÍVEL

porque o consideram incomportáveis para

as empresas. Para a Organização dos Trabalhadores

de Moçambique (OTM-Central

Sindical), a proposta apresentada pelo

Executivo corresponde ao acordo possível,

no âmbito de um esforço de compromisso

que exigiu cedências de parte a parte.

“Acreditamos que nesta nova legislatura

[que começa em 2020] é provável que se

chegue a algum consenso para que a lei

entre efectivamente em vigor. Esta proposta

vai, de certo modo, ‘humanizar’ o

trabalho”, declarou o secretário-geral da

OTM-Central Sindical, Alexandre Munguambe.

A proposta tenta valorizar as pessoas

que realmente criam riqueza neste

país, que são os trabalhadores, prosseguiu.

O especialista em Direito do Trabalho

e consultor do governo na actual Lei do

Trabalho, Casimiro Duarte, defende que

a proposta não enfrenta as lacunas prevalecentes

na norma ainda em vigor e que,

antes da revisão, a prioridade devia ser a

concretização de muitos artigos em sede

de um regulamento.

“Eu acho que tem de haver uma análise

mais profunda da razão de ser de cada uma

das alterações que estão a ser introduzidas,

e ao mesmo tempo estudar se não é

possível resolver muitas das questões que

estão a ser propostas através de um regulamento,

porque mexer constantemente na

lei não é muito aconselhável. Quando se

falou de uma revisão pontual, estávamos

a ver, provavelmente, modificações aqui

e acolá”, declarou. b

MERCADO DE TRABALHO:

PROCURA-SE CONSENSO

A proposta de revisão das leis laborais

apresentada pelo anterior governo

divide representantes empresariais e

sindicais. A própria proposta de revisão

poderá ser “revista”. A EXAME

quis saber quais os argumentos de

empresários, sindicatos e juristas em

relação à necessidade de mexer na

regulamentação do vínculo laboral e

como olham para a última proposta

de lei em particular.

O secretário-geral da Organização

dos Trabalhadores de Moçambique

(OTM), Alexandre Munguambe, diz-

-se confortado com o texto da proposta

e, em síntese, considera que

“vem tentar valorizar as pessoas que

realmente criam riqueza neste país: os

trabalhadores”. O lado sindical valoriza

os ganhos conseguidos em matéria

de licença de maternidade, idade

de acesso ao trabalho, contratação de

estrangeiros, presunção jurídica do

contrato de trabalho e período experimental.

Já quanto à fundamentação

do despedimento, os sindicalistas não

obtêm tudo o que querem da proposta

de lei. Posição diferente tem Agostinho

Vuma, presidente da Confederação

das Associações Económicas (CTA).

A proposta significa mesmo “recuos

em relação a conquistas anteriores do

sector privado. Para os empresários, a

proposta de revisão da legislação laboral

não beneficia a dinâmica do mercado

de trabalho ao não promover a

mobilidade laboral e coloca mesmo

mais dificuldades à tesouraria e às suas

operações. A obrigação de comunicar

com 30 dias de antecedência a transferência

de um trabalhador dificulta

a mobilidade e pode afectar a produção,

e as novas disposições quanto ao

regime de férias trazem complicações

acrescidas às tesourarias. A proposta

de que o trabalhador passe a ter direito

a 30 dias de faltas justificadas anualmente

também penaliza a actividade

empresarial, de acordo com a CTA.

Para Agostinho Vuma, “a lei penaliza

os empresários que tenham tomado

medidas para evitar o encerramento

da unidade produtiva”.

Casimiro Duarte, consultor do

governo na elaboração da legislação

em vigor, considera que a sua revisão

é inoportuna e que seria preferível

regulamentar aspectos que nela

estão pouco esclarecidos e representam

custos avultados para as empresas.

O especialista diz que a proposta

de revisão ainda traduz mais confusões

e que as alterações introduzidas deveriam

ser mais bem explicadas.

Para Paula Duarte Rocha, sócia da

HRA Advogados, a proposta de revisão

vem clarificar vários aspectos da

legislação laboral, entre os quais o que

classifica como “áreas cinzentas” nos

direitos dos trabalhadores, como os

pormenores no contrato de trabalho

a termo certo e a presunção da relação

laboral, cabendo ao empregador

provar que existe uma relação de

trabalho. A sócia da HRA Advogados

considera que o processo de alteração

deve ser acompanhado por empresas,

trabalhadores e juristas.

Balanço feito, a proposta de lei do

último governo colhe aprovações e

objecções. Esta últimas vêm sobretudo

dos representantes das empresas,

as quais deviam ser das principais

beneficiárias da legislação em vigor

no mercado de trabalho em termos

da racionalização dos custos, flexibilização

da actividade e agilização

dos negócios.

* Serviço especial da agência Lusa para a EXAME.

março 2020 | 41

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