EXAME Moz 86
Edição de Março da EXAME, com tema de capa sobre a CTA, dossier sobre a nova lei laboral e um especial inovação com ênfase, nesta edição, na importância do ensino para a promoção da inovação
Edição de Março da EXAME, com tema de capa sobre a CTA, dossier sobre a nova lei laboral e um especial inovação com ênfase, nesta edição, na importância do ensino para a promoção da inovação
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
GLOBAL CRESCIMENTO
O OUTRO
LADO DO
CRESCIMENTO
A desaceleração da economia nunca é uma boa notícia.
Mas tentar recuperar o dinamismo a todo o custo
pode ser pior, segundo o casal vencedor do Nobel
de Economia deste ano
ABHIJIT BANERJEE E ESTHER DUFLO
U
ma das notícias mais preocupantes
de 2019 não teve
a cobertura que se poderia
esperar dos meios de comunicação
nos Estados Unidos
e na Europa, mas é provável que a desaceleração
económica na China e a desaceleração
potencialmente acentuada do
crescimento na Índia recebam consideravelmente
mais atenção em 2020.
O Fundo Monetário Internacional,
o Banco Asiático de Desenvolvimento
e a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico baixaram
as estimativas de crescimento da Índia
em 2019-2020 para cerca de 6% ao ano, o
que seria o índice mais baixo desde o início
da década. Outros afirmam que esta
previsão ainda é optimista e projectam
cenários mais problemáticos. Por exemplo,
Arvind Subramanian, até recentemente
o principal consultor económico
do governo indiano, argumentou, com
base na triangulação de evidências de
vários indicadores, que o índice de crescimento
pode cair para 3,5%. Na China,
o crescimento do produto interno bruto
diminuiu de 14,2%, em 2007, para 6,6%,
em 2018. O Fundo Monetário Internacional
projecta que possa cair para 5,5%
até 2024. O rápido crescimento chinês
e indiano tirou milhões de pessoas da
pobreza e é possível que a actual desaceleração
impeça o progresso da melhoria
da vida dos pobres.
O que é que a China e a Índia deviam
fazer? Ou melhor, o que é que não deviam
fazer? Quando estávamos a escrever o
nosso livro Good Economics for Hard
Times (“Boa economia para tempos difíceis”,
numa tradução livre) em 2018, antes
de começarem a sair as más notícias sobre
a Índia, já estávamos preocupados com
uma potencial desaceleração naquele país
(a desaceleração na China já era conhecida).
Antecipando a queda do crescimento,
alertámos para que “a Índia deveria temer
a complacência”. O que argumentávamos
é simples: nos países que partem de uma
situação em que os recursos são mal utilizados,
como a China sob o comunismo
ou a Índia em nos seus dias de extremo
dirigismo, os primeiros benefícios da
reforma podem advir da transferência
de recursos para melhores utilizações.
No caso das indústrias indianas houve
uma forte aceleração na actualização tec-
56 | Exame Moçambique