GLOBAL ESTADOS UNIDOSOrganização Mundial do Comércio (OMC),que tem o papel de arbitrar as disputas nocomércio internacional. Os Estados Unidos,inclusive, têm bloqueado a nomeaçãode juízes para o órgão de recurso daOMC, que está paralisado desde Dezembro.O Presidente Trump nunca escondeuo menosprezo pelas instituições multilaterais.Durante a sua governação, o Presidentenorte-americano abandonou tratadosinternacionais, como o Acordo de Paris,ANGELA MERKEL, DA ALEMANHA, E VLADIMIR PUTIN, DA RÚSSIA:Os demais países procuram salvar o acordo nuclear com o Irãodeixou cair acordos comerciais, como aParceria Transpacífica, e criticou duramentea NATO e a ONU. “Para os especialistas,a avaliação é que os Estados Unidosestão a distanciar-se cada vez mais da suatradicional posição de garante multilateral”,refere Edward Newman, professorde Segurança Internacional na Universidadede Leeds, em Inglaterra, e especialistano tema.Na sua condição de maior força militare económica do planeta, os EstadosUnidos habituaram-se a agir como sepairassem acima das regras internacionais,como o mostra a invasão do Iraqueem 2003. No entanto, existia um entendimentocomum de que as instituiçõesglobais ajudavam a promover a prosperidadee a liberdade em todos os países, eisso, afinal, era benéfico para os própriosnorte-americanos. Essa visão enfraqueceu.Sem o apoio dos norte-americanosnem de governos liderados por políticosnacionalistas pelo mundo fora, as organizaçõese tratados internacionais tendema perder ainda mais importância.Com os países mais avessos a trabalharemuns com os outros o receio é deque o mundo esteja a caminhar paraum novo ambiente, em que haja menoscooperação, menos integração global eREUTERSmenos trocas comerciais. Durante boaparte de 2019, o comércio internacionalmanteve-se praticamente estagnado e atéchegou a retrair em alguns meses. Alémdisso, a quantidade de recursos que asempresas investem em países no exterior(o chamado fluxo de investimento directoestrangeiro) tem diminuído desde 2015,segundo a Conferência das Nações Unidassobre Comércio e Desenvolvimento(UNCTAD).Com o multilateralismo e a cooperaçãointernacional relegados para segundoplano, quem perde são principalmente ospaíses em desenvolvimento, que conseguiamter uma voz importante nos fórunsde discussão internacionais. Em relaçãoaos países do Médio Oriente, há ainda oreceio de uma progressiva fragmentaçãoda segurança e aumento da força de gruposparamilitares. Milícias iraquianas apoiadaspelo Irão já anunciaram que poderãoplanear acções contra tropas americanasestacionadas no país (no dia 14 de Janeironovos rockets atingiram uma base iraquianaperto de Bagdade que abriga militaresnorte-americanos). “A tendência épara que seja criada uma nova ordemgeopolítica na região e no mundo, com aproliferação de actos de terrorismo praticadospor grupos contrários aos EstadosUnidos”, diz o analista político iraquianoDlawer Ala’Aldeen, presidente do MiddleEast Research Institute, no Iraque. “Semuma mediação internacional, os paísespodem ver-se cada vez mais mergulhadosem crises domésticas.”O Irão não é uma excepção. DesdeNovembro, jovens têm saído à rua paraprotestarem contra o governo e medidasimpopulares, como o aumento do preçodo combustível. No ano passado, a economiairaniana retraiu cerca de 9,5%,segundo projecções do Fundo MonetárioInternacional, em grande parte devido àssanções económicas dos Estados Unidos.As manifestações ganharam um novofôlego depois de o governo reconhecerter abatido por engano o avião comercialda Ukraine International Airlines.Até agora, há poucos sinais de um movimentointernacional para conter a crise.O mundo ficou um pouco mais inseguro. b54 | Exame Moçambique
março 2020 | 55