EXAME Moz 86
Edição de Março da EXAME, com tema de capa sobre a CTA, dossier sobre a nova lei laboral e um especial inovação com ênfase, nesta edição, na importância do ensino para a promoção da inovação
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IDEIAS CAPITALISMO
O CAPITALISMO
ESTÁ POUCO
CAPITALISTA
Com o aumento da concentração do poder económico
na era digital, o sistema que mais criou riqueza na história
da humanidade afasta-se da origem e amplia distorções,
segundo o livro The Myth of Capitalism, um dos melhores
de 2019. A saída: injectar competição. Mas como?
JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS
DISTRITO NO QUÉNIA:
O mau desempenho
do capitalismo moderno tem
trazido aumento de preços, mais
impactante para os mais pobres
Q
uando se trata de perspectivas,
o livro do economista
norte-americano Jonathan
Tepper, The Myth of Capitalism:
Monopolies and the
Death of Competition (“O mito do capitalismo:
monopólios e a morte da concorrência”,
sem versão para o português),
é um dos melhores do ano, segundo o jornal
inglês Financial Times, e incorpora
uma intensa busca de explicações para o
evidente desempenho defeituoso do capitalismo
moderno, que tem gerado uma
enorme insatisfação pelo mundo fora.
A tese de Tepper é que, embora o capitalismo
se tenha mostrado o melhor sistema
para a criação de riqueza e redução
da pobreza da população, hoje o que vemos
é algo totalmente diferente da sua origem,
baseada na existência de mercados concorrenciais.
Por outras palavras, a batalha
da competição está a ser perdida porque
todos os sectores estão a ficar altamente
concentrados nas mãos de poucos. E capitalismo
sem competição não é capitalismo.
O crescimento do poder de mercado
das formas dominantes tem resultado em
menos investimento, menor produtividade,
menor dinamismo, margens maiores,
menores salários e maior concentração
de riqueza. No sector tecnológico, o que já
não era bom ainda fica muito pior, dada a
prevalência do modelo “o vencedor leva
tudo”. Isso é especialmente relevante no
caso da Apple, Google, Amazon, Facebook
e Microsoft, que “são óptimas para
os accionistas mas são arrogantes e matam
a competição”, de acordo com Tepper.
Nos últimos dez anos, estas cinco grandes
empresas compraram 436 companhias,
REUTERS
desenvolvendo verdadeiros monopólios
em muitas áreas fundamentais (como
mecanismos de busca), tudo sem que os
reguladores tivessem dito algo relevante
a esse respeito. Foi só muito recentemente
que o Departamento de Justiça e a Federal
Trade Comission abriram processos
para investigar práticas anticompetitivas
de algumas dessas empresas.
O ponto central de Tepper é que se vive
um intenso processo de concentração da
produção dos diversos sectores da econo-
80 | Exame Moçambique