EXAME Moz 86
Edição de Março da EXAME, com tema de capa sobre a CTA, dossier sobre a nova lei laboral e um especial inovação com ênfase, nesta edição, na importância do ensino para a promoção da inovação
Edição de Março da EXAME, com tema de capa sobre a CTA, dossier sobre a nova lei laboral e um especial inovação com ênfase, nesta edição, na importância do ensino para a promoção da inovação
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GLOBAL ESTADOS UNIDOS
Organização Mundial do Comércio (OMC),
que tem o papel de arbitrar as disputas no
comércio internacional. Os Estados Unidos,
inclusive, têm bloqueado a nomeação
de juízes para o órgão de recurso da
OMC, que está paralisado desde Dezembro.
O Presidente Trump nunca escondeu
o menosprezo pelas instituições multilaterais.
Durante a sua governação, o Presidente
norte-americano abandonou tratados
internacionais, como o Acordo de Paris,
ANGELA MERKEL, DA ALEMANHA, E VLADIMIR PUTIN, DA RÚSSIA:
Os demais países procuram salvar o acordo nuclear com o Irão
deixou cair acordos comerciais, como a
Parceria Transpacífica, e criticou duramente
a NATO e a ONU. “Para os especialistas,
a avaliação é que os Estados Unidos
estão a distanciar-se cada vez mais da sua
tradicional posição de garante multilateral”,
refere Edward Newman, professor
de Segurança Internacional na Universidade
de Leeds, em Inglaterra, e especialista
no tema.
Na sua condição de maior força militar
e económica do planeta, os Estados
Unidos habituaram-se a agir como se
pairassem acima das regras internacionais,
como o mostra a invasão do Iraque
em 2003. No entanto, existia um entendimento
comum de que as instituições
globais ajudavam a promover a prosperidade
e a liberdade em todos os países, e
isso, afinal, era benéfico para os próprios
norte-americanos. Essa visão enfraqueceu.
Sem o apoio dos norte-americanos
nem de governos liderados por políticos
nacionalistas pelo mundo fora, as organizações
e tratados internacionais tendem
a perder ainda mais importância.
Com os países mais avessos a trabalharem
uns com os outros o receio é de
que o mundo esteja a caminhar para
um novo ambiente, em que haja menos
cooperação, menos integração global e
REUTERS
menos trocas comerciais. Durante boa
parte de 2019, o comércio internacional
manteve-se praticamente estagnado e até
chegou a retrair em alguns meses. Além
disso, a quantidade de recursos que as
empresas investem em países no exterior
(o chamado fluxo de investimento directo
estrangeiro) tem diminuído desde 2015,
segundo a Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD).
Com o multilateralismo e a cooperação
internacional relegados para segundo
plano, quem perde são principalmente os
países em desenvolvimento, que conseguiam
ter uma voz importante nos fóruns
de discussão internacionais. Em relação
aos países do Médio Oriente, há ainda o
receio de uma progressiva fragmentação
da segurança e aumento da força de grupos
paramilitares. Milícias iraquianas apoiadas
pelo Irão já anunciaram que poderão
planear acções contra tropas americanas
estacionadas no país (no dia 14 de Janeiro
novos rockets atingiram uma base iraquiana
perto de Bagdade que abriga militares
norte-americanos). “A tendência é
para que seja criada uma nova ordem
geopolítica na região e no mundo, com a
proliferação de actos de terrorismo praticados
por grupos contrários aos Estados
Unidos”, diz o analista político iraquiano
Dlawer Ala’Aldeen, presidente do Middle
East Research Institute, no Iraque. “Sem
uma mediação internacional, os países
podem ver-se cada vez mais mergulhados
em crises domésticas.”
O Irão não é uma excepção. Desde
Novembro, jovens têm saído à rua para
protestarem contra o governo e medidas
impopulares, como o aumento do preço
do combustível. No ano passado, a economia
iraniana retraiu cerca de 9,5%,
segundo projecções do Fundo Monetário
Internacional, em grande parte devido às
sanções económicas dos Estados Unidos.
As manifestações ganharam um novo
fôlego depois de o governo reconhecer
ter abatido por engano o avião comercial
da Ukraine International Airlines.
Até agora, há poucos sinais de um movimento
internacional para conter a crise.
O mundo ficou um pouco mais inseguro. b
54 | Exame Moçambique