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EXAME Moz 86

Edição de Março da EXAME, com tema de capa sobre a CTA, dossier sobre a nova lei laboral e um especial inovação com ênfase, nesta edição, na importância do ensino para a promoção da inovação

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NAS NEGOCIAÇÕES, A TEMPERATURA APENAS SOBE

O impasse sobre as regras para a criação de um mercado global de carbono mantém-se

O principal ponto na agenda da Conferência

do Clima em Madrid, Espanha,

girou em torno do artigo 6 do Acordo

de Paris, que prevê a criação de um

mercado global de carbono. Este é

um dos pontos mais importantes do

documento assinado em 2015. De acordo

com esse mecanismo, os países desenvolvidos

que precisam de compensar

as suas emissões poderão fazer pagamentos

a países em desenvolvimento,

que necessitam de financiamento para

fazer a transição rumo a uma economia

de baixo carbono. Ninguém discorda

de que se trata de uma maneira eficiente

de incentivar as mudanças necessárias.

Os países ricos já se comprometeram a

pôr anualmente à disposição 100 mil

milhões de dólares para a compra desses

créditos a partir de 2020. Os países

emergentes querem, claro, receber.

Divergências sobre as regras do jogo, no

entanto, postergaram uma definição. Um

ponto crítico é o modelo de contagem.

O Brasil defende que os créditos negociados

possam contar para o cumprimento

da meta de redução de emissões

do país de quem vende e a favor do país

que os comprou. Mas, se o mesmo crédito

valesse para o comprador e para o

vendedor, as sobreposições acabariam

por inflacionar a contabilidade global

das metas. “O nosso objectivo ao negociar

é garantir o máximo de benefícios

para o Brasil”, afirmou o ministro brasileiro

do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

“É uma polémica vazia. O Brasil não

pode querer usar o crédito que vendeu”,

diz Ronaldo Seroa da Motta, professor

de Economia na Universidade Estadual

do Rio de Janeiro.

Num outro tópico polémico, Brasil e

Austrália defendem que créditos antigos,

O MINISTRO BRASILEIRO

RICARDO SALLES:

Irredutível em relação

a dois aspectos críticos

obtidos por mecanismos estabelecidos

pelo Protocolo de Quioto, de 1997, possam

ser carregados para o novo sistema.

Há 4,6 mil milhões de créditos (cujo valor

ainda não foi definido) passados, sendo

que a China detém 60% do total e o Brasil,

5%. Referem-se à redução de emissões

já obtidas mas que nunca foram

negociadas. Para os líderes europeus,

permitir o “carregamento” inundaria o

mercado com créditos “podres”. Estes

não serviriam como metas de redução

actuais e futuras, já que foram obtidos

no passado. “Do ponto de vista económico,

o melhor seria o Brasil ceder para

que as empresas pudessem beneficiar do

mercado de carbono”, diz Marina Grossi,

presidente do Conselho Empresarial Brasileiro

para o Desenvolvimento Sustentável,

que reúne 60 grandes empresas

que actuam no país. A validação de projectos

passados também poderia fazer

cair o preço do carbono, algo que não

agrada aos europeus. Durante a conferência,

a União Europeia anunciou um

plano para atingir a neutralidade carbónica

até 2050, iniciativa baptizada

Green Deal Europeu. O holandês Frans

Timmermans, vice-presidente da Comissão

Europeia que lidera o plano, disse

tratar-se de um “modelo de desenvolvimento

económico” a ser exportado

para o mundo.

Por detrás da ideia está também a possibilidade

de exportar tecnologia para a

geração de energia limpa. Um mercado

de carbono bem valorizado ajudaria a

criar incentivos para que mais projectos

sofisticados e caros saiam do papel.

Um dos alvos da Europa será a China.

Já se discute uma taxação na fronteira

europeia de produtos vindos de empresas

que ultrapassarem um certo nível

de emissões, uma preocupação para os

exportadores chineses. Em Setembro,

haverá uma reunião de cúpula entre o

Velho Continente e a China. O objectivo

dos líderes europeus é tornar a meta

chinesa mais ambiciosa.

A esperança de um acordo ficou para

a próxima conferência, daqui a um ano,

em Glasgow, na Escócia. Será o primeiro

grande evento no Reino Unido pós-Brexit.

Também será a primeira COP sem

os Estados Unidos, que anunciaram a

saída do Acordo de Paris. A temperatura

sobe. E a perspectiva de um desfecho,

mais uma vez, ficou para depois.

REUTERS

março 2020 | 79

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