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Capítulo V - As Três Profundidades da Revolução: Nas tendências,<br />

nas idéias, nos fatos<br />

1. A REVOLUÇÃO NAS TENDÊNCIAS<br />

Como vimos, essa Revolução é um processo feito de etapas, e tem sua origem última em<br />

determinadas tendências desordenadas que lhe servem de alma e de força propulsora mais íntima 10 .<br />

Assim, podemos também distinguir na Revolução três profundidades, que cronologicamente<br />

até certo ponto se interpenetram.<br />

A primeira, isto é, a mais profunda, consiste em uma crise nas tendências. Essas tendências<br />

desordenadas, que por sua própria natureza lutam por realizar-se, já não se conformando com toda<br />

uma ordem de coisas que lhes é contrária, começam por modificar as mentalidades, os modos de<br />

ser, as expressões artísticas e os costumes, sem desde logo tocar de modo direto - habitualmente,<br />

pelo menos - nas idéias.<br />

2. A REVOLUÇÃO NAS IDÉIAS<br />

Dessas camadas profundas, a crise passa para o terreno ideológico. Com efeito - como Paul<br />

Bourget pôs em evidência em sua célebre obra Le Démon de Midi - “cumpre viver como se pensa,<br />

sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu” 11 . Assim, inspiradas pelo<br />

desregramento das tendências profundas, doutrinas novas eclodem. Elas procuram por vezes, de<br />

início, um modus vivendi com as antigas, e se exprimem de maneira a manter com estas um<br />

simulacro de harmonia que habitualmente não tarda em se romper em luta declarada.<br />

3. A REVOLUÇÃO NOS FATOS<br />

Essa transformação das idéias estende-se, por sua vez, ao terreno dos fatos, onde passa a<br />

operar, por meios cruentos ou incruentos, a transformação das instituições, das leis e dos costumes,<br />

tanto na esfera religiosa quanto na sociedade temporal. É uma terceira crise, já toda ela na ordem<br />

dos fatos.<br />

4. OBSERVAÇÕES DIVERSAS<br />

A. As profundidades da Revolução não se identificam com etapas<br />

cronológicas<br />

Essas profundidades são, de algum modo, escalonadas. Mas uma análise atenta evidencia que<br />

as operações que a Revolução nelas realiza de tal modo se interpenetram no tempo, que essas<br />

diversas profundidades não podem ser vistas como outras tantas unidades cronológicas distintas.<br />

B. Nitidez das três profundidades da Revolução<br />

Essas três profundidades nem sempre se diferenciam nitidamente umas das outras. O grau de<br />

nitidez varia muito de um caso concreto a outro.<br />

C. O processo revolucionário não é incoercível<br />

O caminhar de um povo através dessas várias profundidades não é incoercível, de tal maneira<br />

que, dado o primeiro passo, ele chegue necessariamente até o último, e resvale para a profundidade<br />

seguinte. Pelo contrário, o livre arbítrio humano, coadjuvado pela graça, pode vencer qualquer crise,<br />

como pode deter e vencer a própria Revolução.<br />

10<br />

Cfr. Parte I - Cap. III, 3.<br />

11<br />

Op. cit., Librairie Plon, Paris, 1914, vol. II, p. 375.<br />

10

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