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Os efeitos dessas eventuais agressões atômicas podem ser múltiplos. Entre eles,<br />
principalmente, o êxodo de populações contidas outrora pelo que foi a cortina de ferro, e que,<br />
premidas pelos rigores de um inverno habitualmente inclemente e pelos riscos de catástrofes<br />
imensas, podem sentir redobrados impulsos para “pedir” a hospitalidade da Europa Ocidental. E<br />
não só dela, mas também de nações do continente americano...<br />
Em abono dessas perspectivas, no Brasil, o sr. Leonel Brizola, governador do Estado do Rio<br />
de Janeiro, com aplauso do ministro da Agricultura do Brasil, propôs atrair lavradores do Leste<br />
europeu, dentro dos programas oficiais de Reforma Agrária 94 . Em seguida, o presidente da<br />
Argentina, Carlos Menem, em contatos com a Comunidade Econômica Européia, manifestou-se<br />
disposto a que seu país acolha muitos milhares desses imigrantes 95 . E, pouco depois, a titular da<br />
Chancelaria colombiana, sra. Nohemí Sanín, disse que o governo de seu país estuda a admissão de<br />
técnicos provenientes do Leste 96 . Até estes extremos podem chegar os vagalhões das invasões.<br />
E o comunismo? O que é feito dele? A forte impressão de que ele morrera apoderou-se da<br />
maior parte da opinião pública do Ocidente, deslumbrada ante a perspectiva de uma paz universal<br />
de duração indeterminada. Ou quiçá de uma duração perene, com o conseqüente desaparecimento<br />
do terrível fantasma da hecatombe nuclear mundial.<br />
Esta “lua de mel” do Ocidente com seu suposto paraíso de desanuviamento e de paz, vem<br />
refulgindo gradualmente menos.<br />
Com efeito, referimo-nos pouco atrás às agressões de toda ordem que relampagueiam nos<br />
territórios da finada URSS. Cabe-nos, pois, perguntar se o comunismo morreu. De início, as vozes<br />
que punham em dúvida a autenticidade da morte do comunismo foram raras, isoladas e escassas em<br />
fundamentação.<br />
Aos poucos, de cá e de lá, sombras foram aparecendo no horizonte. Em nações da Europa<br />
Central e dos Bálcãs, como do próprio território da ex-URSS, foi-se notando que os novos<br />
detentores do Poder eram figuras de destaque do próprio Partido Comunista local. Exceto na<br />
Alemanha Oriental, a caminhada para a privatização na maioria das vezes se vem fazendo muito<br />
mais na aparência do que na realidade, isto é, a passos de cágado, lentos e sem rumo inteiramente<br />
definido.<br />
Ou seja, pode-se dizer que nesses países o comunismo morreu? Ou que ele entrou<br />
simplesmente num complicado processo de metamorfose? Dúvidas a este respeito se vêm<br />
avolumando, enquanto os últimos ecos da alegria universal pela suposta queda do comunismo se<br />
vêm apagando discretamente.<br />
Quanto aos partidos comunistas das nações do Ocidente, murcharam de modo óbvio, ao<br />
estampido das primeiras derrocadas na URSS. Mas já hoje vários deles começam a se reorganizar<br />
com rótulos novos. Esta mudança de rótulo é uma ressurreição? Uma metamorfose? Inclino-me de<br />
preferência por esta última hipótese. Certezas, só o futuro as poderá dar.<br />
Esta atualização do quadro geral em função do qual o mundo vai tomando posição, pareceume<br />
indispensável como tentativa de pôr um pouco de clareza e de ordem num horizonte em cujos<br />
quadrantes o que cresce principalmente é o caos. Qual é o rumo espontâneo do caos senão uma<br />
indecifrável acentuação de si próprio?<br />
* * *<br />
Em meio a esse caos, só algo não variará. É, em meu coração e em meus lábios, como no de<br />
todos os que vêem e pensam comigo, a oração transcrita ao final da Parte III: “Ad te levavi oculos<br />
meos, qui habitas in coelis. Ecce sicut oculi servorum in manibus dominorum suorum, sicut oculi<br />
ancilae in manibus dominae suae; ita oculi nostri ad Dominam Matrem nostram donec misereatur<br />
94<br />
Cfr “Jornal da Tarde”, 27-12-91.<br />
95<br />
Cfr. “Ambito Financiero”, Buenos Aires, 19-2-92.<br />
96<br />
Cfr. “El Tiempo”, Bogotá, 22-2-92.<br />
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