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1. A NATUREZA DECAÍDA, A GRAÇA E O LIVRE ARBÍTRIO<br />

O homem, pelas simples forças de sua natureza, pode conhecer muitas verdades e praticar<br />

várias virtudes. Entretanto, não lhe é possível, sem o auxílio da graça, permanecer duravelmente no<br />

conhecimento e na prática de todos os Mandamentos 38 .<br />

Isto quer dizer que em todo homem decaído há sempre a debilidade da inteligência e uma<br />

tendência primeira, e anterior a qualquer raciocínio, que o incita a revoltar-se contra a Lei 39 .<br />

2. O GERME DA REVOLUÇÃO<br />

Tal tendência fundamental à revolta pode, em dado momento, ter o consentimento do livre<br />

arbítrio. O homem decaído peca, assim, violando um ou outro Mandamento. Mas suas revolta pode<br />

ir além, e chegar até o ódio, mais ou menos inconfessado, à própria ordem moral em seu conjunto.<br />

Esse ódio, revolucionário por essência, pode gerar erros doutrinários, e até levar à profissão<br />

consciente e explícita de princípios contrários à Lei moral e à doutrina revelada, enquanto tais, o<br />

que constitui um pecado contra o Espírito Santo. Quando esse ódio começou a dirigir as tendências<br />

mais profundas da História do Ocidente, teve início a Revolução cujo processo hoje se desenrola e<br />

em cujos erros doutrinários ele imprimiu vigorosamente sua marca. Ele é a causa mais ativa da<br />

grande apostasia hodierna. Por sua natureza, é ele algo que não pode ser reduzido simplesmente a<br />

um sistema doutrinário: é a paixão desregrada, em altíssimo grau de exacerbação.<br />

Como é fácil ver, tal afirmação, relativa a esta Revolução em concreto, não implica em dizer<br />

que há sempre uma paixão desordenada na raiz de todo erro.<br />

E nem implica em negar que muitas vezes foi um erro que desencadeou nesta ou naquela<br />

alma, ou mesmo neste ou naquele grupo social, o desregramento das paixões.<br />

Afirmamos tão somente que o processo revolucionário, considerado em seu conjunto, e<br />

também em seus principais episódios, teve por germe mais ativo e profundo o desregramento das<br />

paixões.<br />

3. REVOLUÇÃO E MÁ FÉ<br />

Poder-se-ia talvez opor a seguinte objeção: se tal é a importância das paixões no processo<br />

revolucionário, parece que a vítima deste está sempre, em alguma medida, pelo menos, de má fé. Se<br />

o protestantismo, por exemplo, é filho da Revolução, está de má fé todo protestante? Não colide isto<br />

com a doutrina da Igreja que admite que haja, em outras religiões, almas de boa fé?<br />

É óbvio que uma pessoa de inteira boa fé, e dotada de um espírito fundamentalmente contrarevolucionário,<br />

pode estar presa nas malhas dos sofismas revolucionários (sejam de índole religiosa,<br />

filosófica, política, ou outra qualquer) por uma ignorância invencível. Em pessoas assim não há<br />

qualquer culpa.<br />

Mutatis mutandis, pode-se dizer o mesmo quanto às que aderem à doutrina da Revolução num<br />

ou noutro ponto restrito, por um lapso involuntário da inteligência.<br />

Mas se alguém participa do espírito da Revolução, movido pelas paixões desregradas<br />

inerentes a ela, a resposta tem de ser outra.<br />

Pode um revolucionário nestas condições estar persuadido das excelências das suas máximas<br />

subversivas. Ele não será portanto insincero. Mas terá culpa pelo erro em que caiu.<br />

E pode também acontecer que o revolucionário professe uma doutrina da qual não esteja<br />

persuadido, ou da qual tenha uma convicção incompleta.<br />

38<br />

Cfr. Parte I - Cap. VII, 2, D.<br />

39<br />

Donoso Cortés, in Ensayo sobre el Catolicismo, el Liberalismo y el Socialismo – Obras completas, B. A. C., Madrid, 1946, tomo II, p. 377<br />

- dá um importante desenvolvimento dessa verdade, o qual muito se relaciona com o presente trabalho.<br />

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