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como principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem<br />

Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus” 4 .<br />

Este processo não deve ser visto como uma seqüência toda fortuita de causas e efeitos, que se<br />

foram sucedendo de modo inesperado. Já em seu início possuía esta crise as energias necessárias<br />

para reduzir a atos todas as suas potencialidades, que em nossos dias conserva bastante vivas para<br />

causar por meio de supremas convulsões as destruições últimas que são seu termo lógico.<br />

Influenciada e condicionada em sentidos diversos, por fatores extrínsecos de toda ordem -<br />

culturais, sociais, econômicos, étnicos, geográficos e outros - e seguindo por vezes caminhos bem<br />

sinuosos, vai ela no entanto progredindo incessantemente para seu trágico fim.<br />

A. Decadência da Idade Média<br />

Já esboçamos na Introdução os grandes traços deste processo. É oportuno acrescentar aqui<br />

alguns pormenores.<br />

No século XIV começa a observar-se, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade<br />

que ao longo do século XV cresce cada vez mais em nitidez. O apetite dos prazeres terrenos se vai<br />

transformando em ânsia. As diversões se vão tornando mais freqüentes e mais suntuosas. Os<br />

homens se preocupam sempre mais com elas. Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e<br />

na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai produzindo<br />

progressivas manifestações de sensualidade e moleza. Há um paulatino deperecimento da seriedade<br />

e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao festivo. Os corações se<br />

desprendem gradualmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de<br />

santidade e vida eterna. A Cavalaria, outrora uma das mais altas expressões da austeridade cristã se<br />

torna amorosa e sentimental, a literatura de amor invade todos os países, os excessos do luxo e a<br />

conseqüente avidez de lucros se estendem por todas as classes sociais.<br />

Tal clima moral, penetrando nas esferas intelectuais, produziu claras manifestações de<br />

orgulho, como o gosto pelas disputas aparatosas e vazias, pelas argúcias inconsistentes, pelas<br />

exibições fátuas de erudição, e lisonjeou velhas tendências filosóficas, das quais triunfara a<br />

Escolástica, e que já agora, relaxado o antigo zelo pela integridade da Fé, renasciam em aspectos<br />

novos. O absolutismo dos legistas, que se engalanavam com um conhecimento vaidoso do Direito<br />

Romano, encontrou em Príncipes ambiciosos um eco favorável. E “pari passu” foi-se extinguindo<br />

nos grandes e nos pequenos a fibra de outrora para conter o poder real nos legítimos limites<br />

vigentes nos dias de São Luís de França e São Fernando de Castela.<br />

B. Pseudo-Reforma e Renascença<br />

Este novo estado de alma continha um desejo possante, se bem que mais ou menos<br />

inconfessado, de uma ordem de coisas fundamentalmente diversa da que chegara a seu apogeu nos<br />

séculos XII e XIII.<br />

A admiração exagerada, e não raro delirante, pelo mundo antigo, serviu como meio de<br />

expressão a esse desejo. Procurando muitas vezes não colidir de frente com a velha tradição<br />

medieval, o Humanismo e a Renascença tenderam a relegar a Igreja, o sobrenatural, os valores<br />

morais da Religião, a um segundo plano. O tipo humano, inspirado nos moralistas pagãos, que<br />

aqueles movimentos introduziram como ideal na Europa, bem como a cultura e a civilização<br />

coerentes com este tipo humano, já eram os legítimos precursores do homem ganancioso, sensual,<br />

laico e pragmático de nossos dias, da cultura e da civilização materialistas em que cada vez mais<br />

vamos imergindo. Os esforços por uma Renascença cristã não lograram esmagar em seu germe os<br />

fatores de que resultou o triunfo paulatino do neopaganismo.<br />

4<br />

Alocução à União dos Homens da A. C. Italiana, de 12-X-1952 – “Discorsi e Radiomessaggi”, vol. XIV, p. 359.<br />

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