You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
também ela, com o desempenho instintivo e quase mecânico de algumas atividades absolutamente<br />
indispensáveis à vida.<br />
A aversão ao esforço intelectual, notadamente à abstração, à teorização, ao pensamento<br />
doutrinário, só pode induzir, em última análise, a uma hipertrofia dos sentidos e da imaginação, a<br />
essa “civilização da imagem” para a qual Paulo VI julgou dever advertir a humanidade 85 .<br />
São sintomáticos também os idílicos elogios, sempre mais freqüentes, a um tipo de<br />
“revolução cultural” geradora de uma futura sociedade pós-industrial, ainda incompletamente<br />
esboçada, e da qual o comunismo chinês seria - conforme por vezes é apresentado - um primeiro<br />
espécimen.<br />
C. Despretensioso contributo<br />
Bem sabemos quanto são passíveis de objeções, em muitos de seus aspectos, os quadros<br />
panorâmicos, por sua natureza vastos e sumários como este.<br />
Necessariamente abreviado pelas delimitações de espaço do presente capítulo, este quadro<br />
oferece seu despretensioso contributo para as elucubrações dos espíritos dotados daquela ousada e<br />
peculiar finura de observação e de análise que, em todas as épocas, proporciona a alguns homens<br />
prever o dia de amanhã.<br />
D. A oposição dos banais<br />
Os outros farão, a esse propósito, o que em todas as épocas fizeram os espíritos banais e sem<br />
ousadia. Sorrirão e tacharão de impossíveis tais transformações, porque são de molde a alterar seus<br />
hábitos mentais. Porque elas aberram do bom senso, e aos homens banais o bom senso parece a<br />
única via normal do acontecer histórico. Sorrirão incrédulos e otimistas ante essas perspectivas,<br />
como Leão X sorriu a propósito da trivial “querela de frades”, que foi só o que conseguiu discernir<br />
na I Revolução nascente. Ou como o feneloniano Luís XVI sorriu ante as primeiras efervescências<br />
da II Revolução, as quais se lhe apresentavam em esplêndidos salões palacianos, embaladas por<br />
vezes ao som argênteo do cravo. Ou então luzindo discretamente nos ambientes e nas cenas<br />
bucólicas à maneira do “Hameau” de sua esposa. Como sorriem, ainda hoje, otimistas, céticos, ante<br />
os manejos do risonho comunismo pós-staliniano, ou as convulsões que prenunciam a IV<br />
Revolução, muitos representantes altos, e até dos mais altos, da Igreja e da sociedade temporal no<br />
Ocidente.<br />
Se algum dia a III ou a IV Revolução tomar conta da vida temporal da humanidade, acolitada<br />
na esfera espiritual pelo progressismo ecumênico, devê-lo-ão mais à incúria e colaboração destes<br />
risonhos e otimistas profetas do “bom senso”, do que a toda a sanha das hostes e dos serviços de<br />
propaganda revolucionários.<br />
Comentário acrescentado em 1992:<br />
A oposição dos “profetas do bom senso”<br />
Profetas estes de um estranho gênero, pois suas profecias consistem em afirmar<br />
invariavelmente que “nada acontecerá”.<br />
Essas várias formas de otimismo acabarão por contrastar de tal maneira com os fatos que se<br />
seguiram às anteriores edições de Revolução e Contra-Revolução que, para sobreviver, os espíritos<br />
adeptos delas refugiar-se-ão na esperança falaz e meramente hipotética de que os últimos<br />
acontecimentos no Leste europeu determinarão o desaparecimento definitivo do comunismo, e<br />
portanto do processo revolucionário do qual este era, até há pouco, a ponta de lança. Sobre tais<br />
esperanças, ver os incisos acrescentados nesta edição ao capítulo II desta III Parte.<br />
85<br />
“Nós sabemos bem que o homem moderno, saturado de discursos, se demonstra muitas vezes cansado de ouvir e, pior ainda, como que<br />
imunizado contra a palavra. Conhecemos também as opiniões de numerosos psicólogos e sociólogos, que afirmam ter o homem moderno<br />
ultrapassado já a civilização da palavra, que se tornou praticamente ineficaz e inútil; e estar a viver, hoje em dia, na civilização da imagem” (cfr.<br />
Exortação apostólica “Evangelii Nuntiandi”, 8/12/1975, Documentos Pontifícios, nº 188, Vozes, Petrópolis, 1984, 6ª ed., p. 30).<br />
63