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* d. A geração do “rock and roll”: o processo revolucionário nas almas, assim descrito,<br />
produziu nas gerações mais recentes, e especialmente nos adolescentes atuais que se hipnotizam<br />
com o “rock and roll”, um feitio de espírito que se caracteriza pela espontaneidade das reações<br />
primárias, sem o controle da inteligência nem a participação efetiva da vontade; pelo predomínio da<br />
fantasia e das “vivências” sobre a análise metódica da realidade: fruto, tudo, em larga medida, de<br />
uma pedagogia que reduz a quase nada o papel da lógica e da verdadeira formação da vontade.<br />
* e. Igualitarismo, liberalismo e anarquismo: conforme os itens anteriores (“a” a “d”), a<br />
efervescência das paixões desregradas, se desperta de um lado o ódio a qualquer freio e qualquer<br />
lei, de outro lado provoca o ódio contra qualquer desigualdade. Tal efervescência conduz assim à<br />
concepção utópica do “anarquismo” marxista, segundo a qual uma humanidade evoluída, vivendo<br />
numa sociedade sem classes nem governo, poderia gozar da ordem perfeita e da mais inteira<br />
liberdade, sem que desta se originasse qualquer desigualdade. Como se vê, o ideal simultaneamente<br />
mais liberal e mais igualitário que se possa imaginar.<br />
Com efeito, a utopia anárquica do marxismo consiste em um estado de coisas em que a<br />
personalidade humana teria alcançado um alto grau de progresso, de tal maneira que lhe seria<br />
possível desenvolver-se livremente numa sociedade sem Estado nem governo.<br />
Nessa sociedade - que, apesar de não ter governo, viveria em plena ordem - a produção<br />
econômica estaria organizada e muito desenvolvida, e a distinção entre trabalho intelectual e<br />
manual estaria superada. Um processo seletivo ainda não determinado levaria à direção da<br />
economia os mais capazes, sem que daí decorresse a formação de classes.<br />
Estes seriam os únicos e insignificantes resíduos de desigualdade. Mas, como essa sociedade<br />
comunista anárquica não é o termo final da História, parece legítimo supor que tais resíduos seriam<br />
abolidos em ulterior evolução.<br />
Capítulo VIII - A inteligência, a vontade e a sensibilidade, na<br />
determinação dos atos humanos<br />
As anteriores considerações pedem um desenvolvimento quanto ao papel da inteligência, da<br />
vontade e da sensibilidade, nas relações entre erro e paixão.<br />
Poderia parecer, com efeito, que afirmamos que todo erro é concebido pela inteligência para<br />
justificar alguma paixão desregrada. Assim, o moralista que afirmasse uma máxima liberal seria<br />
sempre movido por uma tendência liberal.<br />
Não é o que pensamos. Pode suceder que unicamente por fraqueza da inteligência atingida<br />
pelo pecado original, o moralista chegue a uma conclusão liberal.<br />
Em tal caso terá havido necessariamente alguma falta moral de outra natureza, o descuido, por<br />
exemplo? É questão alheia a nosso estudo.<br />
Afirmamos, isto sim, que, historicamente, esta Revolução teve sua primeira origem em uma<br />
violentíssima fermentação de paixões. E estamos longe de negar o grande papel dos erros<br />
doutrinários nesse processo.<br />
Muitos têm sido os estudos de autores de grande valor, como de Maistre, de Bonald, Donoso<br />
Cortés e tantos outros, sobre tais erros e o modo por que foram eles derivando uns dos outros, do<br />
século XV ao século XVI, e assim por diante até o século XX. Não é, pois, nossa intenção insistir<br />
aqui sobre o assunto.<br />
Parece-nos, entretanto, particularmente oportuno focalizar a importância dos fatores<br />
“passionais” e a influência destes nos aspectos estritamente ideológicos do processo revolucionário<br />
em que nos achamos. Pois, a nosso ver, as atenções estão pouco voltadas para este ponto, o que traz<br />
uma visão incompleta da Revolução, e acarreta em conseqüência a adoção de métodos contrarevolucionários<br />
inadequados.<br />
Sobre o modo por que as paixões podem influir nas idéias, há algo a acrescentar aqui.<br />
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