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inteligência, sua vontade e sua sensibilidade, e conseqüentemente seus modos de ser, característicos<br />
e conflitantes, se fundem e se dissolvem na personalidade coletiva da tribo geradora de um pensar,<br />
de um querer, de um estilo de ser densamente comuns.<br />
Bem entendido, o caminho rumo a este estado de coisas tribal tem de passar pela extinção dos<br />
velhos padrões de reflexão, volição e sensibilidade individuais, gradualmente substituídos por<br />
modos de pensamento, deliberação e sensibilidade cada vez mais coletivos. É, portanto, neste<br />
campo que principalmente a transformação se deve dar.<br />
- De que forma? - Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um<br />
comum pensar e sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. Nelas, a razão<br />
individual fica circunscrita a quase nada, isto é, aos primeiros e mais elementares movimentos que<br />
seu estado atrofiado lhe consente. “Pensamento selvagem” 83 , pensamento que não pensa e se volta<br />
apenas para o concreto. Tal é o preço da fusão coletivista tribal. Ao pajé incumbe manter, num<br />
plano místico, esta vida psíquica coletiva, por meio de cultos totêmicos carregados de “mensagens”<br />
confusas, mas “ricas” dos fogos fátuos ou até mesmo das fulgurações provenientes dos misteriosos<br />
mundos da transpsicologia ou da parapsicologia. É pela aquisição dessas “riquezas” que o homem<br />
compensaria a atrofia da razão.<br />
Da razão, sim, outrora hipertrofiada pelo livre exame, pelo cartesianismo, etc., divinizada pela<br />
Revolução Francesa, utilizada até o mais exacerbado abuso em toda escola de pensamento<br />
comunista, e agora, por fim, atrofiada e feita escrava a serviço do totemismo transpsicológico e<br />
parapsicológico...<br />
A. IV Revolução e o preternatural<br />
“Omnes dii gentium dæmonia”, diz a Escritura 84 . Nesta perspectiva estruturalista, em que a<br />
magia é apresentada como forma de conhecimento, até que ponto é dado ao católico divisar as<br />
fulgurações enganosas, o cântico a um tempo sinistro e atraente, emoliente e delirante, ateu e<br />
fetichisticamente crédulo com que, do fundo dos abismos em que eternamente jaz, o príncipe das<br />
trevas atrai os homens que negaram Jesus Cristo e sua Igreja?<br />
É uma pergunta sobre a qual podem e devem discutir os teólogos. Digo os teólogos<br />
verdadeiros, ou seja, os poucos que ainda crêem na existência do demônio e do inferno.<br />
Especialmente os poucos, dentre esses poucos, que têm a coragem de enfrentar os escárnios e as<br />
perseguições publicitárias, e de falar.<br />
B. Estruturalismo - Tendências pré-tribais<br />
Seja como for, na medida em que se veja no movimento estruturalista uma figura - mais exata<br />
ou menos, mas em todo caso precursora - da IV Revolução, determinados fenômenos afins com ele,<br />
que se generalizaram nos últimos dez ou vinte anos devem ser vistos, por sua vez, como<br />
preparatórios e propulsores do próprio ímpeto estruturalista.<br />
Assim, a derrocada das tradições indumentárias do Ocidente, corroídas cada vez mais pelo<br />
nudismo, tende obviamente para o aparecimento ou consolidação de hábitos nos quais se tolerará,<br />
quando muito, a cintura de penas de ave de certas tribos, alternada, onde o frio o exija, com<br />
coberturas mais ou menos à maneira das usadas pelos lapões.<br />
O desaparecimento rápido das fórmulas de cortesia só pode ter como ponto final a<br />
simplicidade absoluta (para empregar só esse qualificativo) do trato tribal.<br />
A crescente ojeriza a tudo quanto é raciocinado, estruturado e metodizado só pode conduzir,<br />
em seus últimos paroxismos, à perpétua e fantasiosa vagabundagem da vida das selvas, alternada,<br />
83<br />
Cfr. Claude Lévy-Strauss, La pensée sauvage, Plon, Paris, 1969.<br />
84<br />
“Todos os deuses dos pagãos são demônios” - Sl. 95, 5.<br />
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