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A. A variedade das vias do Espírito Santo<br />
Ninguém pode fixar limites à inexaurível variedade das vias de Deus nas almas. Seria absurdo<br />
reduzir a esquemas assunto tão complexo. Não se pode pois, nesta matéria, ir além da indicação de<br />
alguns erros a evitar e de algumas atitudes prudentes a propor.<br />
Toda conversão é fruto da ação do Espírito Santo, que, falando a cada qual segundo suas<br />
necessidades, ora com majestosa severidade, ora com suavidade materna, entretanto nunca mente.<br />
B. Nada esconder<br />
Assim, no itinerário do erro para a verdade, não há para a alma os silêncios velhacos da<br />
Revolução, nem suas metamorfoses fraudulentas. Nada se lhe oculta do que ela deve saber. A<br />
verdade e o bem lhe são ensinados integralmente pela Igreja. Não é escondendo, sistematicamente,<br />
o termo último de sua formação, mas mostrando-o e fazendo-o desejado sempre mais, que se obtém<br />
dos homens o progresso no bem.<br />
A Contra-Revolução não deve, pois, dissimular seu vulto total. Ela deve fazer suas as<br />
sapientíssimas normas estabelecidas por São Pio X para o proceder habitual do verdadeiro apóstolo:<br />
“Não é leal nem digno ocultar, cobrindo-a com uma bandeira equívoca, a qualidade de católico,<br />
como se esta fosse mercadoria avariada e de contrabando” 49 . Os católicos não devem “ocultar<br />
como que sob um véu os preceitos mais importantes do Evangelho, temerosos de serem talvez<br />
menos ouvidos, ou até completamente abandonados” 50 . Ao que judiciosamente acrescentava o<br />
santo Pontífice: “Sem dúvida, não será alheio à prudência, também ao propor a verdade, usar de<br />
certa contemporização, quando se tratar de esclarecer homens hostis às nossas instituições e<br />
inteiramente afastados de Deus. “As feridas que é preciso cortar - diz São Gregório - devem antes<br />
ser apalpadas com mão delicada”. Mas essa mesma habilidade assumiria o aspecto de prudência<br />
carnal se erigida em norma de conduta constante e comum; e tanto mais que desse modo pareceria<br />
ter-se em pouca conta a graça divina, que não é concedida somente ao Sacerdócio e aos seus<br />
ministros, mas a todos os fiéis de Cristo, a fim de que nossas palavras e atos comovam as almas<br />
desses homens” 51 .<br />
C. O “choque” das grandes conversões<br />
Censurando, como o fizemos, o esquematismo nesta matéria, parece-nos entretanto que a<br />
adesão plena e consciente à Revolução, como esta in concreto se apresenta, constitui um imenso<br />
pecado, uma apostasia radical, da qual só por meio de uma conversão igualmente radical se pode<br />
voltar.<br />
Ora, segundo a História, afigura-se que as grandes conversões se dão o mais das vezes por um<br />
lance de alma fulminante, provocado pela graça ao ensejo de qualquer fato interno ou externo. Esse<br />
lance difere em cada caso, mas apresenta com freqüência certos traços comuns. Concretamente, na<br />
conversão do revolucionário para a Contra-Revolução, ele, não raras vezes e em linhas gerais, se<br />
opera assim:<br />
a. Na alma empedernida do pecador que, por um processo de grande velocidade, foi logo ao<br />
extremo da Revolução, restam sempre recursos de inteligência e bom senso, tendências mais ou<br />
menos definidas para o bem. Deus, embora não as prive jamais da graça suficiente, espera, não<br />
raramente, que essas almas cheguem ao mais fundo da miséria, para lhes fazer ver de uma só vez,<br />
como num fulgurante “flash”, a enormidade de seus erros e de seus pecados. Foi quando desceu a<br />
p. 76.<br />
49<br />
Carta ao Conde Medolago Albani, Presidente da União Econômico-Social, da Itália, datada de 22-XI-1909, Bonne Presse, Paris, vol. V,<br />
50<br />
Encíclica Jucunda Sane, de 12-III-1904, Bonne Presse, Paris, vol. I, p. 158.<br />
51<br />
Doc. cit., ibid.<br />
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