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muita verdade ou muita virtude que se mantêm infensas à ação do espírito revolucionário. Uma<br />

alma em tal situação fica bipartida, e vive de dois princípios opostos, o da Revolução e o da Ordem.<br />

Da coexistência desses dois princípios, podem surgir situações bem diversas:<br />

* a. O revolucionário de pequena velocidade: ele se deixa arrastar pela Revolução, à qual<br />

opõe apenas a resistência da inércia.<br />

* b. O revolucionário de velocidade lenta, mas com “coágulos” contra-revolucionários.<br />

Também ele se deixa arrastar pela Revolução. Mas em algum ponto concreto recusa-a. Assim, por<br />

exemplo, será socialista em tudo, mas conservará o gosto das maneiras aristocráticas. Conforme o<br />

caso, ele chegará até mesmo a atacar a vulgaridade socialista. Trata-se de uma resistência, sem<br />

dúvida. Mas resistência em ponto de pormenor, que não remonta aos princípios, toda feita de<br />

hábitos e impressões. Resistência por isto mesmo sem maior alcance, que morrerá com o indivíduo,<br />

e que, se se der num grupo social, cedo ou tarde, pela violência ou pela persuasão, em uma geração<br />

ou algumas, a Revolução em seu curso inexorável desmantelará.<br />

* c. O “semicontra-revolucionário” 16 : diferencia-se do anterior apenas pelo fato de que nele<br />

o processo de “coagulação” foi mais enérgico, e remontou até a zona dos princípios básicos. De<br />

alguns princípios, já se vê, e não de todos. Nele a reação contra a Revolução é mais pertinaz, mais<br />

viva. Constitui um obstáculo que não é só de inércia. Sua conversão a uma posição inteiramente<br />

contra-revolucionária é mais fácil, pelo menos em tese. Um excesso qualquer da Revolução pode<br />

determinar nele uma transformação cabal, uma cristalização de todas as tendências boas, numa<br />

atitude de firmeza inabalável. Enquanto esta feliz transformação não se der, o “semi-contrarevolucionário”<br />

não pode ser considerado um soldado da Contra-Revolução.<br />

É característica do conformismo do revolucionário de marcha lenta, e do “semicontrarevolucionário”,<br />

a facilidade com que ambos aceitam as conquistas da Revolução. Afirmando a tese<br />

da união da Igreja e do Estado, por exemplo, vivem displicentemente no regime da hipótese, isto é,<br />

da separação, sem tentar qualquer esforço sério para que se torne possível restaurar algum dia em<br />

condições convenientes a união.<br />

B. Monarquias protestantes - Repúblicas católicas<br />

Uma objeção que se poderia fazer a nossas teses consistiria em dizer que, se o movimento<br />

republicano universal é fruto do espírito protestante, não se compreende como no mundo só haja<br />

atualmente um Rei católico, e tantos países protestantes se conservem monárquicos.<br />

A explicação é simples. A Inglaterra, a Holanda e as nações nórdicas, por toda uma série de<br />

razões históricas, psicológicas, etc., são muito afins com a monarquia. Penetrando nelas, a<br />

Revolução não conseguiu evitar que o sentimento monárquico “coagulasse”. Assim, a realeza vem<br />

sobrevivendo obstinadamente nesses países, apesar de neles a Revolução ir penetrando cada vez<br />

mais a fundo em outros campos. “Sobrevivendo”..., sim, na medida em que morrer aos poucos pode<br />

ser chamado sobreviver. Pois a monarquia inglesa reduzida em larguíssima medida a um papel de<br />

aparato, e as demais realezas protestantes transformadas para quase todos os efeitos em repúblicas<br />

cujo chefe é vitalício e hereditário, vão agonizando suavemente, e, a continuarem assim as coisas,<br />

se extinguirão sem ruído.<br />

Sem negar que outras causas contribuem para esta sobrevida, queremos, entretanto, pôr em<br />

evidência o fator - muito importante, aliás - que se situa no âmbito de nossa exposição.<br />

Pelo contrário, nas nações latinas, o amor a uma disciplina externa e visível, a um poder<br />

público forte e prestigioso, é - por muitas razões - bem menor.<br />

A Revolução não encontrou nelas, pois, um sentimento monárquico tão arraigado. Levou os<br />

tronos facilmente. Mas até agora não foi suficientemente forte para arrastar a Religião.<br />

16<br />

Cfr. Parte I, cap. IX.<br />

13

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