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A proximidade, a eventual iminência desta grande hecatombe é sem dúvida uma das notas<br />
que, comparados os horizontes de 1959 com os de 1976, indicam maior transformação na<br />
conjuntura mundial.<br />
A. Na rota do apogeu, a III Revolução evitou com cuidado as aventuras totais<br />
e inúteis<br />
Se bem que esteja nas mãos dos mentores da III Revolução lançar-se, de um momento para<br />
outro, numa aventura para a conquista completa do mundo por uma série de guerras, de cartadas<br />
políticas, de crises econômicas e de revoluções sangrentas, é bem de ver que tal aventura apresenta<br />
consideráveis riscos. Os mentores da III Revolução só aceitarão de os correr caso isto lhes pareça<br />
indispensável.<br />
Com efeito, se o emprego contínuo dos métodos clássicos levou o comunismo ao atual<br />
fastígio de poder sem expor o processo revolucionário senão a riscos cuidadosamente circunscritos<br />
e calculados, é explicável que os guias da Revolução mundial esperem alcançar a cabal dominação<br />
do mundo sem sujeitar sua obra ao risco de catástrofes irremediáveis, inerente a toda grande<br />
aventura.<br />
B. Aventura, nas próximas etapas da III Revolução?<br />
Ora, o sucesso dos costumeiros métodos da III Revolução está comprometido pelo surgimento<br />
de circunstâncias psicológicas desfavoráveis, as quais se acentuaram fortemente ao longo dos<br />
últimos vinte anos. - Tais circunstâncias forçarão o comunismo a optar, daqui por diante, pela<br />
aventura?<br />
Comentário acrescentado em 1992:<br />
“Perestroika” e “glasnost”: desmantelamento da III Revolução, ou metamorfose do<br />
comunismo?<br />
No ocaso do ano de 1989, aos supremos dirigentes do comunismo internacional, pareceu<br />
afinal chegado o momento de lançar uma imensa cartada política, a maior da história do<br />
comunismo. Esta consistiria em derrubar a cortina de ferro e o Muro de Berlim, o que, produzindo<br />
seus efeitos de forma simultânea à execução dos programas “liberalizantes” da glasnost (1985) e da<br />
perestroika (1986), precipitaria o aparente desmantelamento da III Revolução no mundo soviético.<br />
Por sua vez, tal desmantelamento atrairia para seu supremo promotor e executor, Mikhail<br />
Gorbachev, a simpatia enfática e a confiança sem reservas das potências econômicas estatais e de<br />
muitos dos poderes econômicos privados do Primeiro Mundo.<br />
A partir disto, o Kremlin poderia esperar um fluxo assombroso de recursos financeiros a favor<br />
de suas vazias arcas. Essas esperanças foram muito amplamente confirmadas pelos fatos,<br />
proporcionando a Gorbachev e à sua equipe a possibilidade de continuar flutuando, com o timão na<br />
mão, sobre o mar de miséria, de indolência e de inação, em face do qual a infeliz população russa,<br />
sujeita até há pouco ao capitalismo de Estado integral, vai se havendo, até o momento, com uma<br />
passividade desconcertante. Passividade esta propícia à generalização do marasmo, do caos, e quiçá<br />
à formação de uma crise conflitual interna suscetível, por sua vez, de degenerar em uma guerra<br />
civil... ou mundial 73 .<br />
Foi neste quadro que irromperam os sensacionais e brumosos acontecimentos de agosto de<br />
1991, protagonizados por Gorbachev, Yeltsin e outros co-autores dessa jogada, que abriram<br />
caminho à transformação da URSS numa frouxa confederação de Estados e depois ao seu<br />
desmantelamento.<br />
73<br />
NOTA DA EDITORA: Sob o título Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio, foi lançada, a partir de<br />
fevereiro de 1990, firme interpelação do Autor aos líderes comunistas russos e ocidentais, a propósito da perestroika. Publicada em 21 jornais de<br />
oitos países, alcançou grande repercussão, especialmente na Itália (Cfr. “Catolicismo” de março/90).<br />
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