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VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

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— «Ah! ah!, irmã Francisca, sempre esse pensamento, sempre essa queixa!Tenho-a repreendido tanta vez e não se emenda.»— «Eu não me queixei, o meu padre. Deus sabe que me não queixo... aomenos por mim.»— «Pois por quem?»— «Oh!, padre!»— «Irmã Francisca, tenho medo da entender. Eu não conheço as afeiçõesda carne nem lido com os fracos pensamentos do mundo. Sou frade, a minhairmã, sou um que já não é do número dos vivos, que vesti esta mortalha paranão ser deles, que a vesti num tempo em que a mofa e o desprezo são o únicopatrimónio do frade, em que o escárnio, a derisão, o insulto — o pior e o maiscruel de todos os martírios — são a nossa única esperança. Eu quis ser frade,fiz-me frade, sabendo e vendo tudo isto, fiz-me frade no meio de tudo isto: jávelho e experimentado no mundo, farto do conhecer, e certo do que meespera — a mim e à profissão que abracei. Que quer de um homem que assimse resolveu a cortar por quanto prende a humanidade a esta miserável vida daterra, para não viver senão das esperanças da outra? Eu vesti este hábito paraisso. O seu, irmã, para que o vestiu? É um divertimento, é um capricho, é umacomédia com Deus? Rasgue-o depressa, vista-se das galas do mundo, nãoaperte com a paciência divina, trajando por fora saco da penitência e trazendoo coração por dentro desapertado de todo o cilício e mortificação.»

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