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VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

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senão que a dobadoira não parava, e que o fio seguia, seguia, enrolando-se,enrolando-se contínuo e compassado no novelo; e que os braços da velhalidavam lentamente mas sem cessar no seu movimento de autómato que faziamal ver.Decara dela, sentado numa pedra, a cabeça baixa, e os olhos fixos num grossolivro velho, que sustinha nos joelhos, estava um homem seco e magro,descarnado como um esqueleto, lívido como um cadáver, imóvel como umaestátua. Trajava um mon-descriptum negro, que podia ser sotaina de clérigoou túnica de frade, mas descingida, solta, e pendente em grossas e largaspregas do extenuado pescoço do homem.Também não podia ser senão Frei Dinis.Cheguei junto deles; não me sentiu nenhum dos dois; nem me viu ele, o quesó via dos dois.Sem mais reflexão, e continuando alto na série de pensamentos que me vinhacorrendo pelo espírito, exclamei:— «E Joaninha?»— «Joaninha está no céu»: — respondeu sem sobressalto, sem erguer osolhos do seu livro, a sombra do frade — que outra coisa não parecia.— «Joaninha, pobre Joaninha! Pois como foi, como acabou a infeliz?»— «Joaninha não é infeliz: foi ser anjo na presença de Deus.»

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