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VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

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emédio, precipitar-se no golfão do materialismo estúpido e brutal em quetodos os vínculos sociais apodreciam e caíam, e em que mais e mais se isolavae estreitava o individualismo egoísta — última fase da civilização exageradaque vai tocar no outro extremo da vida selvagem.Tais eram os princípios deste homem extraordinário que juntava para umaerudição imensa o profundo conhecimento dos homens e do mundo em quetinha vivido até a idade de cinquenta anos.Como e porque deixava ele o mundo? Como e porque, um espírito tão ativo esuperior se ocupava apenas do obscuro encargo de guardião do seu convento— cargo que aceitara por obediência — e quase que limitava as suas relaçõesfora do claustro àquela casa do vale onde não havia senão aquela velha eaquela criança?Apesar da sua rigidez ascética, prendia esse espírito por alguma coisa a estemundo? Aquele coração macerado do cilício dos pensamentos austeros eterríveis do eterno futuro, consumido na abstinência de todo o gozo, de todoo desejo no presente, teria acaso, viva ainda bastante, alguma fibra quevibrasse com recordações, com saudades, com remorsos do passado?No seu convento ele não tinha senão uma cela nua com um crucifixo portodo adorno, um breviário por único livro. Naquela só família que conversava,havia, já o disse, a velha cega e decrépita, Joaninha com quem apenas falava, eum ausente, um rapaz de quem há dois anos quase que se não sabia. Em

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