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VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

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Ao mesmo tempo, um som confuso, um tumulto vago e abafado de mil sonsque pareciam arredar-se, encontrando-se, tornando, indo e vindo, edispersando-se para se tornar a unir, e tornando a dispersar-se enfim, reboavaao longe pela vila, estendia-se nas praças, concentrava-se nas ruas, e mandavaàquela solitária e remota cela do convento uns ecos surdos, como os do marao longe quando se retira da praia no murmurar melancólico que precede umtemporal de equinócio.— «Ouves esse burburinho confuso, Carlos? É a tua causa que triunfa, é adestes loucos que sucumbe, é a de Deus que a Si mesmo se desamparou. Ahora está chegada, escreveram-se as letras de Baltasar; a confusão e a mortereinam sós e senhoras na face da terra. Eu quero ir morrer onde haja Deus...Perdoai-me, Senhor, a blasfémia!... Onde o seu nome não seja profanado emaldito... Ao canto de uma pedra, debaixo de uma árvore há de ser, nalgumlugar escuso dessas charnecas, onde me não rasguem ao menos esta mortalha,e ma não insultem nos últimos instantes, porque eu sou frade, frade, frade... Omaldito frade! Mas frade quero morrer, e hei de morrer. Oh! assim tivera euvivido!»— «Mas que foi, que sucedeu?»— «O resto do exército realista evacua neste momento Santarém; vão emfuga para o Alentejo. Os constitucionais venceram na Asseiceira, e tudo estádito para nós. Para mim, Carlos, falta uma palavra só: quererás tu dizê-la?»

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