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VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

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quase calva: cobrem-na apenas, como a mal povoada nuca de um velho,alguns tufos de verdura cinzenta e grisalha de um arbusto rasteiro, meio frútexmeio herbáceo que aqui chamam «salgadeira» e que a tradição diz ter vindo deÁfrica para segurar a terra nestes taludes e precipícios. O aspeto e hábito daplanta é realmente africano e oriental, não tem nada de europeu. Mas estaderradeira e ocidental parte da nossa Espanha é, geologicamente falando, játão África, tão pouco Europa, que não seria necessária a transplantação talvez;e porventura ficou esta memória entre o povo do uso que os mouros faziamda planta para esse fim.Esta porta do Sol dizem que é onde se faziam as execuções em temposantigos. Foi bem escolhido o sítio; não o há mais triste e melancólico. Ao péestá um torreão quadrado da muralha que aí forma canto para seguir depoisna direção de sul a norte. Deste lado as fortificações e lanços de muro estãotodos pouco estragados; e do mirante a que subimos, pode-se formar perfeitaideia do que era uma antiga cidade murada.Seria aqui, dizia eu comigo, que o nosso Fr. Dinis, de quem já tenho saudades— o velho guardião de S. Francisco veio chorar o seu último treno sobre asruínas da antiga monarquia? Seria aqui neste lugar de desolação e melancoliaque as suas derradeiras lágrimas correram! Ele que já não chorava, acharia aquiquem desse aos seus olhos as fontes de água que o coração lhe pedia para sedesafogar dos pesares que o ralavam na aridez e secura da sua desconsoladavelhice?

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