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VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

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Mas, senhores, ponderem, venham cá: o que há de um homem fazer? ODante não sei que gíria teve, que batizou Públio Virgílio Marão para lhe servirde cicerone nas regiões do Inferno, do Paraíso e do Purgatório cristão, e tevetão boa fortuna que nem o queimou a Inquisição nem o descompôs a Crusca,nem sequer o mutilaram os censores, nem o perseguiram delegados por abusode liberdade de imprensa, nem o mandaram para os dignos pares... Não setinham ainda descoberto as mangações liberais que se usam hoje: e as cartasque o povo tinha era a liberdade ganha e sustentada à ponta da espada commuito coração e poucas palavras, muito patriotismo, poucas leis... e menosrelatórios. Não havia em Florença nem gazeta para louvar as tolices dosministros, nem ministros para pagar as tolices da gazeta.O Dante foi proscrito e exilado, mas não se ficou a escrever, deu catanada quese regalou nos inimigos da liberdade da sua pátria.Quem dera cá um batalhão de poetas como aquele!Que fosse porém um triste vate de hoje escrever no século das luzes o queescrevia o Dante no século das trevas! Os próprios filósofos gritavam: Queescândalo! Ateus professos clamavam contra a irreverência; gentes que nãotêm religião, nem a de Mafoma, bradavam pela religião: entravam a pôrcarapuças nas cabeças uns dos outros, caíam depois todos sobre o poeta, e —se o não pudessem enforcar, pelo menos declaravam-no republicano, quedizem eles que é uma injúria muito grande.

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