25.08.2015 Views

VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

Viagens na minha terra - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— «Defendi-me, foi defendendo esta vida miserável... Oh nunca eu ofizera! E para quê? Para que quis eu viver? Para isto!»— «E o meu tio, o pai de Joaninha? Também esse era preciso quemorresse?»— «Ambos se juntaram para me assassinar, e me acometeramatraiçoadamente na charneca. Não os conheci; foi de noite escura e cerrada.Defendi-me sem saber de quem, e tive a desgraça de salvar a minha vida àcusta da deles. Filho, filho, não queiras nunca sentir o que eu senti quandopegando, um a um, nesses cadáveres para os lançar ao rio, conheci as minhasvítimas... Era Inverno, a cheia ia de vale a monte: quando abateu e se acharamos corpos já meio desfeitos, ninguém conheceu a morte de que eles morreram;passaram por se ter afogado. Ninguém mais soube a verdade senão eu — e atua infeliz mãe a quem o disse para o meu castigo, a quem vi morrer de pesare de remorsos, que expirou nos meus braços chorando por ele, e maldizendomea mim. Não seria bastante castigo, o meu filho? — Não foi, não. Esteburel que há tantos anos me roça no corpo, estes cilícios que mo desfazem, osjejuns, as vigílias, as orações nada obtiveram ainda de Deus. A sua ira não medeixa, a sua cólera vai até à sepultura sobre mim... Se me perseguirás alémdela!... »Fez-se aqui um silêncio horroroso: ninguém respirava; o frade prosseguiu: —«Não me dei por bastante castigado com a agonia da tua mãe, a mais

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!