VIAGENS NA MINHA TERRA

More documents

Recommendations

Info

— «Então adeus, Joaninha! Eu estou de mais aqui. Já tenho ouvido o quenão devia ouvir. Os segredos da tua família não me pertencem. O coraçãodesse homem não é o meu, nem o quero. É um nobre e grande coração,Joaninha; mas... Não te deixes dominar por ele, se o queres segurar. Adeus! —Santarém está desamparada pelos realistas; eu vou para Lisboa. Consola tuaboa avó, e esse pobre velho. Ele não é tão criminoso, estou certa... »— «Oh!, não! Carlos pensa-o assassino do seu pai; e é falso. A minha avójá me disse tudo.»— «Falso!» murmurou Carlos sem abrir os olhos: «É falso? Pois não foi eleque matou o meu pai?»— «Não, filho,» clamou a velha: «não, o meu filho; teu pai é este infeliz.»— «É o meu pai, este! Santo Deus! E a minha mãe?»— «Tua mãe... e eu fomos duas desgraçadas. Que mais queres saber? Tuamãe amou esse homem... »— «Ah!» disse Carlos: «ah!» e abriu os olhos pasmados para a avó e para ofrade que cravaram os seus no chão, e ficaram como dois réus na presença doseu inflexível juiz.— «Mas esse homem que é... que por força querem que seja o meu... Omeu pai... Santo Deus! ele matou o outro.»
— «Defendi-me, foi defendendo esta vida miserável... Oh nunca eu ofizera! E para quê? Para que quis eu viver? Para isto!»— «E o meu tio, o pai de Joaninha? Também esse era preciso quemorresse?»— «Ambos se juntaram para me assassinar, e me acometeramatraiçoadamente na charneca. Não os conheci; foi de noite escura e cerrada.Defendi-me sem saber de quem, e tive a desgraça de salvar a minha vida àcusta da deles. Filho, filho, não queiras nunca sentir o que eu senti quandopegando, um a um, nesses cadáveres para os lançar ao rio, conheci as minhasvítimas... Era Inverno, a cheia ia de vale a monte: quando abateu e se acharamos corpos já meio desfeitos, ninguém conheceu a morte de que eles morreram;passaram por se ter afogado. Ninguém mais soube a verdade senão eu — e atua infeliz mãe a quem o disse para o meu castigo, a quem vi morrer de pesare de remorsos, que expirou nos meus braços chorando por ele, e maldizendomea mim. Não seria bastante castigo, o meu filho? — Não foi, não. Esteburel que há tantos anos me roça no corpo, estes cilícios que mo desfazem, osjejuns, as vigílias, as orações nada obtiveram ainda de Deus. A sua ira não medeixa, a sua cólera vai até à sepultura sobre mim... Se me perseguirás alémdela!... »Fez-se aqui um silêncio horroroso: ninguém respirava; o frade prosseguiu: —«Não me dei por bastante castigado com a agonia da tua mãe, a mais
Page 2 and 3:
VIAGENS NA MINHA TERRAALMEIDA GARRE
Page 4 and 5:
"Qu'il est glorieux d'ouvrir une no
Page 6 and 7:
a Santarém: e declaro que de tudo
Page 8 and 9:
Já saudámos Alhandra, a toireira;
Page 10 and 11:
multidões. Voltavam à sua terra o
Page 12 and 13:
deita ali à cernelha de um toiro q
Page 14 and 15:
CAPÍTULO IIDeclaram-se típicas, s
Page 16 and 17:
O senso comum virá para o milénio
Page 18 and 19:
Vamos percorrendo lentamente aquele
Page 20 and 21:
CAPÍTULO IIIAcha-se desapontado o
Page 22 and 23:
Nota do Autor: Estes versos são um
Page 24 and 25:
Mas aqui é que me aparece uma inco
Page 26 and 27:
Nada, nada, verdade e mais verdade.
Page 28 and 29:
Da beleza e virtude é a cidadelaA
Page 30 and 31:
Por mim, não conheço objeto mais
Page 32 and 33:
CAPÍTULO VChega o A. ao pinhal da
Page 34 and 35:
Vários tratantes, e algumas pessoa
Page 36 and 37:
Maistre quando, a meia jornada do s
Page 38 and 39:
CAPÍTULO VIProva-se como o velho C
Page 40 and 41:
tão naturais, tão bem pintadas
Page 42 and 43:
Ora pois, o nosso Camões, criador
Page 44 and 45:
Nada! viva o nosso Camões e o seu
Page 46 and 47:
Apertou a luneta no sobrolho e sorr
Page 48 and 49:
prazer de chegar por aquele modo a
Page 50 and 51:
— «Então que novidades há por
Page 52 and 53:
Infelizmente o sacrifício não foi
Page 54 and 55:
fé, em abandonar a nossa aliança.
Page 56 and 57:
CAPÍTULO VIIISaída do Cartaxo.
Page 58 and 59:
Ora a charneca dentre Cartaxo e San
Page 60 and 61:
Eu moía comigo só estas amargas r
Page 62 and 63:
Que mina tão rica e fértil para q
Page 64 and 65:
E há títulos também que não dev
Page 66 and 67:
[(*) Nota do Autor: Chamavam assim
Page 68 and 69:
E o desgraçado tremiam-lhe as pern
Page 70 and 71:
CAPÍTULO XVale de Santarém. — N
Page 72 and 73:
Se haverá ali quem a aproveite, a
Page 74 and 75:
— «É a janela dos rouxinóis.»
Page 76 and 77:
CAPÍTULO XITrata-se do único priv
Page 78 and 79:
inexcepcionável para sempre e para
Page 80 and 81:
surpreendeu a alma por um modo novo
Page 82 and 83:
O movimento bem visível da dobadoi
Page 84 and 85:
CAPÍTULO XIIDe como Joaninha desem
Page 86 and 87:
nobre, todo o desembaraço modesto,
Page 88 and 89:
quarta contradança ao menos, a pre
Page 90 and 91:
Eu, que professo a religião dos ol
Page 92 and 93:
mão, e que já está no peito porq
Page 94 and 95:
peralvilha raça europeia — corta
Page 96 and 97:
Porque este mundo e a sua história
Page 98 and 99:
grosas de barões, não para a tal
Page 100 and 101:
E aqui tenho eu às costas nada men
Page 102 and 103:
— «Ah! ah!, irmã Francisca, sem
Page 104 and 105:
solenidades da igreja. Mas já lhe
Page 106 and 107:
— «Esses inimigos do altar e da
Page 108 and 109:
mim, quero-lhe por ele e por ela. A
Page 110 and 111:
CAPÍTULO XVRetrato de um francisca
Page 112 and 113:
Segundo os seus princípios, poder
Page 114 and 115:
emédio, precipitar-se no golfão d
Page 116 and 117:
CAPÍTULO XVISaibamos da vida do fr
Page 118 and 119:
O mundo aplaudia aqueles grandes sa
Page 120 and 121:
A velha estremeceu, mas tornou logo
Page 122 and 123:
— «Pois quê? que tenho eu?»—
Page 124 and 125:
O frade sufocava, e balbuciou entre
Page 126 and 127:
Joaninha era uma criança a esse te
Page 128 and 129:
O Sol declinava já... e Fr. Dinis
Page 130 and 131:
O observador vulgar não via senão
Page 132 and 133:
A velha aterrada e confusa tremia d
Page 134 and 135:
— «Era» disse ela tímida e sub
Page 136 and 137:
Oh! que existências que eram aquel
Page 138 and 139:
— «Dinis!... Padre!... Padre Fr.
Page 140 and 141:
CAPÍTULO XIXGuerra de postos avan
Page 142 and 143:
Apenas se estabeleceu a posição d
Page 144 and 145:
Assim passaram meses, assim correu
Page 146 and 147:
um pequeno grupo de álamos e olive
Page 148 and 149:
CAPÍTULO XXJoaninha adormecida.
Page 150 and 151:
O oficial... — Mas certo que as a
Page 152 and 153:
O rosto, mais pálido que trigueiro
Page 154 and 155:
— «Sonhava como sonho sempre que
Page 156 and 157:
CAPÍTULO XXIQuem vem lá? — Como
Page 158 and 159:
O momento era supremo, o perigo imi
Page 160 and 161:
— «Bem, camaradas!» bradou Carl
Page 162 and 163:
— «Está bom: basta de conversar
Page 164 and 165:
precauções estavam tomadas, e o c
Page 166 and 167:
Qual fosse porém a precisa e verda
Page 168 and 169:
E quando vier, se vier, esse fatal
Page 170 and 171:
CAPÍTULO XXIIIContinua a acudir mu
Page 172 and 173:
compreendia a pobre velha, aquela a
Page 174 and 175:
pretos, azuis, verdes... Os de Joan
Page 176 and 177:
«Os olhos do primeiro homem deviam
Page 178 and 179:
Pope e Molière, e mais algumas dú
Page 180 and 181:
desarrazoado e impossível, complic
Page 182 and 183:
Assim chegou ao pé de Joaninha, qu
Page 184 and 185:
— «Bem sei o que queres dizer: e
Page 186 and 187:
— «Não decerto, aqui. Mas vamos
Page 188 and 189:
CAPÍTULO XXVO excesso da felicidad
Page 190 and 191:
— «Suceda o que suceder?»— «
Page 192 and 193:
Iam a cair nos braços um do outro.
Page 194 and 195:
— «Não digas.»— «Porquê?»
Page 196 and 197:
CAPÍTULO XXVIModo de ler os autore
Page 198 and 199:
Niebelungen (*), podendo-o ter, e n
Page 200 and 201:
meu particular amigo sir John Falst
Page 202 and 203:
outro dia. Tinha estado às voltas
Page 204 and 205:
que ainda ela agora começa: mas ho
Page 206 and 207:
Estragado como os outros, profanado
Page 208 and 209:
o bizantino e o clássico, entre o
Page 210 and 211:
CAPÍTULO XXVIIIDepois de muito pro
Page 212 and 213: Mas deixar tudo isso, e deixar a ig
Page 214 and 215: Nunca dormi tão regalado sono na m
Page 216 and 217: E a amizade com eles. ReverdeceA m
Page 218 and 219: CAPÍTULO XXIXDoçuras da vida. —
Page 220 and 221: Só tenho pena de uma coisa, é de
Page 222 and 223: Estando eu à janela com a minha al
Page 224 and 225: Lá por meia-noite que me eu sufoca
Page 226 and 227: Que me degolaste que nem um cordeir
Page 228 and 229: corpo; e se lhe não curou o da alm
Page 230 and 231: era milagre; e contentando-se de le
Page 232 and 233: nações e as idades onde eles mais
Page 234 and 235: CAPÍTULO XXXIQuomodo sedet sola ci
Page 236 and 237: quase calva: cobrem-na apenas, como
Page 238 and 239: CAPÍTULO XXXIITornamos à históri
Page 240 and 241: Carlos esqueceu-se de tudo menos da
Page 242 and 243: mangas, o capuz na cabeça, estava
Page 244 and 245: — «Porquê?»— «Porque tu me
Page 246 and 247: Proibiram-lhe falar; e Georgina tin
Page 248 and 249: CAPÍTULO XXXIIICarlos e Georgina.
Page 250 and 251: elampejar da imaginação desmentiu
Page 252 and 253: — «Era ele.»— «Pois tu sabes
Page 254 and 255: CAPÍTULO XXXIVCarlos, Georgina e F
Page 256 and 257: Ao mesmo tempo, um som confuso, um
Page 258 and 259: CAPÍTULO XXXVReunião de toda a fa
Page 260 and 261: descarnada caveira do frade! De amb
Page 264: horrorosa e desesperada agonia que
Page 267 and 268: — Horror seja, horror será... e
Page 269 and 270: já hoje da antiga nobreza das noss
Page 271 and 272: esses cruzeiros de Portugal, a reco
Page 273 and 274: Diz-lhes que te não vendam as pedr
Page 275 and 276: Que, sem passar além da Taprobana,
Page 277 and 278: Encerrada outra vez a âmbula com a
Page 279 and 280: e povo olissiponense. Era uma quest
Page 281 and 282: CAPÍTULO XXXVIIIJantar nos reais p
Page 283 and 284: Em Santarém há poucas casas parti
Page 285 and 286: A soirée mais maçante, de piano o
Page 287 and 288: E dizem que saudades que matam! Sau
Page 289 and 290: como tudo o mais neste mundo. Dorme
Page 291 and 292: O predomínio, crescente há sécul
Page 293 and 294: de Santarém com o Diabo. O que eu
Page 295 and 296: CAPÍTULO XLAs Claras. — Aventura
Page 297 and 298: «Estamos feitos o opróbrio dos no
Page 299 and 300: essas portas que cerrou a impiedade
Page 301 and 302: CAPÍTULO XLIO roubador do corpo sa
Page 303 and 304: casa, e dessa fadada família cujo
Page 305 and 306: CAPÍTULO XLIIProtesto do autor.
Page 307 and 308: O belo jazigo do rei formoso e frí
Page 309 and 310: crianças nos jazigos dos pais, dos
Page 311 and 312: E eu que escrevo isto serei eu dema
Page 313 and 314:
Santarém fatigou-me o espírito, c
Page 315 and 316:
senão que a dobadoira não parava,
Page 317 and 318:
— «Há mais do que não houve nu
Page 319 and 320:
CAPÍTULO XLIVCarta de Carlos a Joa
Page 321 and 322:
Eu sou filho; a minha mãe morreu s
Page 323 and 324:
longos passeios solitários, por aq
Page 325 and 326:
Fizeram nascer os desejos!Julguei-m
Page 327 and 328:
Fascinante é a palavra para ela.O
Page 329 and 330:
É preciso que te descreva a pequen
Page 331 and 332:
CAPÍTULO XLVICarta de Carlos a Joa
Page 333 and 334:
Não sei o que fiz nem o que disse;
Page 335 and 336:
Júlia foi para a janela — indulg
Page 337 and 338:
prometendo-me paz ao coração, anu
Page 339 and 340:
CAPÍTULO XLVIICarta de Carlos a Jo
Page 341 and 342:
Passámos todo o dia juntos e sós:
Page 343 and 344:
escreveu-me estas palavras sós:
Page 345 and 346:
O vulto era de mulher e parecia uma
Page 347 and 348:
Vão-se gradualmente, vão-se pouco
Page 349 and 350:
Pelo mundo em pedaços repartido; e
Page 351 and 352:
CAPÍTULO XLIXDe como Carlos se fez
Page 353 and 354:
— «Mas por ser barão?...»—
Page 355:
Tenho visto alguma coisa do mundo,
show all

VIAGENS NA MINHA TERRA

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?