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VIAGENS NA MINHA TERRA

Viagens na minha terra - Luso Livros

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Mas enfim cá não há doutros nem haverá tão cedo, graças ao muito que agora,diz que, se pensa nos interesses materiais do País: e portanto tome o seu lugar,passe o mesmo que eu passei; chegue-me a Santarém, descanse e ponha-se-mea ler a crónica: verá se não é outra coisa, verá se diante daquelas preciosasrelíquias, ainda mutiladas, deformadas como elas estão por tantos e tãosucessivos bárbaros, estragadas enfim pelos piores e mais vândalos de todosos vândalos, as autoridades administrativas e municipais do feliz sistema quenos rege, ainda assim mesmo não vê erguer-se diante dos seus olhos oshomens, as cenas dos tempos que foram; se não ouve falar as pedras, bradaras inscrições, levantar-se as estátuas dos túmulos, e reviver-lhe a pintura toda,reverdecer-lhe toda a poesia daquelas idades maravilhosas!Tenho-o experimentado muitas vezes: é infalível. Nunca tinha entendidoShakespeare enquanto o não li em Warwick, ao pé do Avon, debaixo de umcarvalho secular, à luz daquele Sol baço e branco do nublado céu de Albion...Ou à noite com os pés no fender (*1), a chaleira a ferver no fogão, e sobre abanca o cristal antigo de um bom copo lapidado a luzir-me alambreado comos doces e perfumados resplendores do old-sack (*2); enquanto o fogão e osponderosos castiçais de cobre brunido projetam no antigo teto almofadado,nos pardos compartimentos de carvalho que forram o aposento, aquelasfortes sombras vacilantes de que as velhas fazem visões e almas do outromundo, de que os poetas — poetas como Shakespeare — fazem sombras deBanco, bruxas de Macbeth, e até a rotunda pança e o arrastante espadagão do

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