déchets. stigmatisations, commerces, politiques ... - Viva Rio en Haiti
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dores e cli<strong>en</strong>tes que por ali transitam cotidianam<strong>en</strong>te.<br />
(ver foto 1).<br />
A área da pesquisa, situada na grande Bel Air,<br />
é fortem<strong>en</strong>te estigmatizada, tida pelos de fora como<br />
“poluída” em termos ambi<strong>en</strong>tais e sociais. Isso<br />
transforma “a questão do lixo” em uma janela<br />
singular para observar a dinâmica das difer<strong>en</strong>ciações<br />
e a construção de desigualdades sociais no<br />
<strong>Haiti</strong>. A estigmatização da região também decorre<br />
de sua associação com imag<strong>en</strong>s de violência,<br />
politização e com a pres<strong>en</strong>ça de “gangs”. Bel Air<br />
é um c<strong>en</strong>tro s<strong>en</strong>sível na história rec<strong>en</strong>te do <strong>Haiti</strong>.<br />
A situação de instabilidade política vivida pelo<br />
país <strong>en</strong>tre 1990 e 2000 converteu a área em um<br />
dos primeiros c<strong>en</strong>ários da interv<strong>en</strong>ção militar da<br />
Missão das Nações Unidas para a Estabilização<br />
do <strong>Haiti</strong> (MINUSTAH), iniciada em 2004. Porém,<br />
apesar da notável diminuição das ações armadas,<br />
Bel Air continua a ser considerada uma zona “vermelha”<br />
(altam<strong>en</strong>te perigosa) pela MINUSTAH, um<br />
fato com consequências negativas diretas para as<br />
possibilidades de des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to econômico e<br />
social da região.<br />
O VR é a única ONG que atua por ali. Os projetos<br />
começaram em 2006 e <strong>en</strong>volvem uma série de ações<br />
articuladas, ori<strong>en</strong>tadas para a “estabilização”. 5 Estas<br />
iniciativas visam diretam<strong>en</strong>te à diminuição da<br />
violência, como o projeto Tambou Lapé, à melhoria<br />
da infraestrutura e da autoestima da população,<br />
como o projeto Dlo Fanm Sante. Há também<br />
as ações des<strong>en</strong>cadeadas na época desta pesquisa<br />
sobre a gestão do lixo sólido, ou que ainda estavam<br />
s<strong>en</strong>do projetadas, como aquelas relativas à reciclagem<br />
e à construção de latrinas públicas e bio-<br />
4 Samper, O. ; Chapal, E. ; Braïlowsky, A. “Analyse de la<br />
problématique des <strong>déchets</strong> solides dans la Zone Métropolitaine<br />
de Port-au-Prince”. BID, Washington DC,<br />
10/12/2006. Segundo os técnicos do BID, essa cifra é coer<strong>en</strong>te<br />
com outros estudos, como os do GRET, realizados<br />
em 1996 e 2002. Em tais estudos, afi rma-se ainda que<br />
73% do lixo produzido nas áreas “desfavorecidas” da zona<br />
metropolitana correspondem a matérias orgânicas.<br />
5 No início, a pres<strong>en</strong>ça do VR no <strong>Haiti</strong> esteve ligada à<br />
iniciativa de Desarmam<strong>en</strong>to, Desmobilização e Reintegração<br />
(DDR, posteriorm<strong>en</strong>te transformada em CN-<br />
DDR) que ainda hoje articula o governo haitiano com<br />
a MINUSTAH. Para uma descrição compre<strong>en</strong>siva das<br />
ações do <strong>Viva</strong> <strong>Rio</strong> na área e de sua singularidade no<br />
campo das iniciativas t<strong>en</strong>d<strong>en</strong>tes à estabilização no<br />
<strong>Haiti</strong>, ver Hel<strong>en</strong> Moestue e Robert Muggah, “Integração<br />
digestores. A partir do início de 2009, o VR obteve<br />
uma sede no coração da região: o Kay Nou, um terr<strong>en</strong>o<br />
de 25.000m 2 onde começaram a ser implem<strong>en</strong>tadas<br />
iniciativas de cultivo de peixes, viveiros de<br />
plantas, construção de biodigestores, aulas de capoeira,<br />
reuniões comunitárias e culturais, cursos<br />
de capacitação. Tal c<strong>en</strong>tro acolhe também as brigadas<br />
que, na ocasião, iniciavam a limpeza de ruas<br />
e canais da zona. 6<br />
No quadro das ações do VR relativas ao lixo, a<br />
área da nossa pesquisa de campo era tida, na época,<br />
como a zona “Zero”. Naquele mom<strong>en</strong>to, havia<br />
equipes <strong>en</strong>volvidas na limpeza do canal de Pont<br />
Rouge, das ruas e canalizações da água da chuva e<br />
esgotos e na instalação de lixeiras. Essas ações colocavam<br />
o VR em contato com instâncias do governo,<br />
agências internacionais e ONGs que intervêm<br />
na gestão do lixo. Dessa forma, a pesquisa igualm<strong>en</strong>te<br />
permitiu, por meio de uma interrogação sobre<br />
a vida social do lixo, iluminar outra área c<strong>en</strong>tral<br />
na estruturação do <strong>Haiti</strong> contemporâneo, ligada<br />
às articulações <strong>en</strong>tre Estado, cooperação internacional<br />
e ONGs, à elaboração e implem<strong>en</strong>tação de<br />
políticas públicas e às percepções e expectativas<br />
da população sobre a “ajuda internacional”.<br />
As pesquisas preliminares, realizadas em setembro<br />
de 2008 e <strong>en</strong>tre fevereiro e junho de 2009,<br />
permitiram uma primeira formulação do plano e<br />
das questões a serem investigadas, a planifi cação<br />
dos objetivos específi cos, o roteiro de observação e<br />
das <strong>en</strong>trevistas semiabertas, em coord<strong>en</strong>ação com<br />
o trabalho de campo des<strong>en</strong>volvido na área por um<br />
dos membros da equipe, <strong>en</strong>tre fevereiro e junho<br />
de 2009. 7<br />
Social, portanto, Estabilização: avaliando o programa<br />
de segurança e des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to do <strong>Viva</strong> <strong>Rio</strong> em Porto<br />
Príncipe”, <strong>Viva</strong> <strong>Rio</strong>, setembro de 2009.<br />
6 Na época da pesquisa de campo, o VR lançou o projeto<br />
Bèlè Vèt (Bel Air verde) que pret<strong>en</strong>dia, simultaneam<strong>en</strong>te,<br />
agir sobre a degradação ambi<strong>en</strong>tal da área (plantando<br />
mudas de árvores e limpando calçadas, ruas e canais) e<br />
mobilizar a população para contestar a classifi cação da<br />
zona como “vermelha” por parte da MINUSTAH.<br />
7 A equipe foi integrada por dois pesquisadores principais:<br />
Federico Neiburg e Natacha Nicaise; por um auxiliar<br />
de pesquisa: Sergo Jean Louis (estudante da Faculté<br />
d’Ethnologie de l’Université de l’État de <strong>Haiti</strong>) e<br />
por um auxiliar de pesquisa/ag<strong>en</strong>t de liaison: Herold<br />
Saint Joie.<br />
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