22.12.2012 Views

déchets. stigmatisations, commerces, politiques ... - Viva Rio en Haiti

déchets. stigmatisations, commerces, politiques ... - Viva Rio en Haiti

déchets. stigmatisations, commerces, politiques ... - Viva Rio en Haiti

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

adias, como materiais para fazer ou consertar tetos,<br />

paredes, ut<strong>en</strong>sílios domésticos, <strong>en</strong>feites etc.<br />

Podem também ser consumidos no dia a dia, por<br />

exemplo, como fonte de <strong>en</strong>ergia – como acontece<br />

com o plástico utilizado no lugar do carvão nas zonas<br />

mais pobres e degradadas (especialm<strong>en</strong>te, na<br />

microrregião 1). E ainda podem ser transformados<br />

em mercadorias, v<strong>en</strong>didos.<br />

De fato, aquilo que para alguns, num dado contexto,<br />

é tido como lixo, para outros (uma boa parte<br />

da população da área) pode ser um meio de vida.<br />

Há, na região, uma série de circuitos nos quais<br />

objetos se transformam em mercadorias, organizados<br />

em pontos de compra / v<strong>en</strong>da e em locais de<br />

processam<strong>en</strong>to. As pessoas que participam desses<br />

circuitos podem ser “profi ssionais” e se dedicar especialm<strong>en</strong>te<br />

ou exclusivam<strong>en</strong>te a essas atividades<br />

ou podem delas participar ocasionalm<strong>en</strong>te. De fato,<br />

como veremos, há catadores que dedicam boa<br />

parte da jornada a coletar e v<strong>en</strong>der lixo, especialm<strong>en</strong>te<br />

no lixão de Truitier (o principal da zona metropolitana)<br />

ou na foz dos canais Rockefeller e Delmas<br />

e em toda a microrregião 1. 18 Mas há também,<br />

como na microrregião 5, uma infi nidade de catadores<br />

ocasionais, principalm<strong>en</strong>te hom<strong>en</strong>s jov<strong>en</strong>s e<br />

crianças que, no dia a dia, andando pelas ruas, fi -<br />

cam de olho no que podem achar para v<strong>en</strong>der, especialm<strong>en</strong>te<br />

metais ou plásticos.<br />

14 Tradicionalm<strong>en</strong>te, no mundo rural haitiano, o lakou é,<br />

ao mesmo tempo, um espaço familiar e ritual, lugar de<br />

residência da família ext<strong>en</strong>sa, dos seus santos (os lwas<br />

do vodu) e dos ancestrais (tradicionalm<strong>en</strong>te, no lakou,<br />

descansam os mortos das famílias). Sobre os lakous<br />

urbanos, ver a pesquisa (realizada nessa mesma área<br />

de Porto Príncipe) de Louis Herns Marcelin, “La Famille<br />

Suburbaine à Saint-Martin, Port-au-Prince”, Mémoire<br />

de Lic<strong>en</strong>se, Faculté d’Ethnologie, Université d’Etat<br />

d’Haïti, Port-au-Prince, 1988.<br />

15 A fi gura do restavek é um conc<strong>en</strong>trado das relações<br />

<strong>en</strong>tre família, hierarquia social e história e os paradoxos<br />

da pós-escravidão haitiana: trata-se de crianças<br />

oriundas dos ramos rurais das famílias ext<strong>en</strong>sas, <strong>en</strong>viadas<br />

para viver em regime de semi-escravidão junto<br />

aos seus familiares das cidades, ainda em regiões extremam<strong>en</strong>te<br />

pobres, como pudemos verifi car em nossa<br />

pesquisa de campo.<br />

5. CIRCUITOS COMERCIAIS<br />

Os dois principais circuitos de mercantilização<br />

de objetos que em outros contextos são considerados<br />

lixo são os dos metais e do plástico. Em<br />

ambos os casos, em grande medida, não foram<br />

consumidos originalm<strong>en</strong>te na área; eles chegam<br />

através dos canais Rockefeller e Delmas, especialm<strong>en</strong>te<br />

nos dias de chuva, após terem sido descartados<br />

nas regiões mais altas da cidade. Podem ser<br />

também recipi<strong>en</strong>tes utilizados nos mercados ou<br />

peças usadas nas ofi cinas de conserto de carros,<br />

ônibus (tap taps) ou nos pequ<strong>en</strong>os ateliês metalúrgicos<br />

que se localizam na região (especialm<strong>en</strong>te<br />

nas Av<strong>en</strong>idas J. J. Dessalines e H. Truman, rodeando<br />

as microrregiões 1 e 2).<br />

O circuito mais diversifi cado e que mais pessoas<br />

e dinheiro movim<strong>en</strong>ta é o dos metais. Especialm<strong>en</strong>te<br />

nas grandes vias que circundam as microrregiões<br />

1, 2 e 3, na área do canal Rockefeller e<br />

na zona de Pont Rouge (microrregião 5), há dez<strong>en</strong>as<br />

de pontos de compra / v<strong>en</strong>da que podem ser<br />

id<strong>en</strong>tifi cados pela pres<strong>en</strong>ça de balanças (vandè pa<br />

pèz) (fotos 16, 17 e 18). Comercializa-se alumínio<br />

e ferro; muito raram<strong>en</strong>te também cobre, um metal<br />

precioso cuja v<strong>en</strong>da é proibida, pois supõe-se roubado<br />

de fi os elétricos públicos. Os preços oscilam<br />

<strong>en</strong>tre 5 e 15 gourdes a libra de alumínio e aproximadam<strong>en</strong>te<br />

5 gourdes o quilograma de ferro. 19<br />

Como em todos os mercados haitianos, aqui também<br />

a formação dos preços se explica em função<br />

16 Ainda que não fale especifi cam<strong>en</strong>te de lixo, sobre a<br />

vida social dos objetos, ver Arjun Appadurai, The Social<br />

Life of Things. Commodities in Cultural Perspective.<br />

Cambridge: Cambridge University Press, 1986.<br />

17 Transformação de doações em mercadorias pode ser<br />

reconhecida em vários outros contextos transnacionais;<br />

alguns, como o salaula em Zambia, lembram diretam<strong>en</strong>te<br />

o pèpè haitiano (ver Kar<strong>en</strong> Transberg Hans<strong>en</strong>,<br />

Salaula. The World of Seconhand Clothing and<br />

Zambia, Chicago University Press, 2000).<br />

18 Truitier é o único lixão ofi cial cuja gestão é teoricam<strong>en</strong>te<br />

assumida pelo SMCRS. A reforma desta gestão é<br />

atualm<strong>en</strong>te objeto de planos governam<strong>en</strong>tais articulados<br />

com ONGs, agências internacionais de cooperação<br />

e empresas privadas.<br />

19 Na época da pesquisa, 40 gourdes eram equival<strong>en</strong>tes<br />

a um dólar americano.<br />

LIXO | 95

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!