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déchets. stigmatisations, commerces, politiques ... - Viva Rio en Haiti

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iam em função das fl utuações dos mercados internacionais<br />

de metais, plásticos e petróleo. Isto é<br />

crucial para a formação dos preços pagos nas balanças<br />

localizadas nos outros pontos do circuito.<br />

No mom<strong>en</strong>to da pesquisa, a GS pagava 6 gourdes<br />

pelo quilo de ferro,12 gourdes pela libra de alumínio<br />

e 50 kobs (c<strong>en</strong>tavos de gourde) pela libra<br />

de papelão. Também comprava, por unidade, baterias<br />

de carros.<br />

Os v<strong>en</strong>dedores podem ser vistos de segunda<br />

a sábado nas proximidades da GS, chegando com<br />

grandes sacos ou com carros de mão; podem igualm<strong>en</strong>te<br />

ser vistos d<strong>en</strong>tro da empresa, nas fi las para<br />

pesagem dos objetos (fotos 41, 42, 43). Segundo<br />

o ger<strong>en</strong>te da companhia, num dia normal, a GS recebe<br />

<strong>en</strong>tre 1000 e 1200 v<strong>en</strong>dedores e compra <strong>en</strong>tre<br />

25 e 50 toneladas de metal; por mês, ela adquire<br />

100 toneladas de plástico e 25 de borrachas de<br />

sandálias e sapatos usados.<br />

Nos difer<strong>en</strong>tes departam<strong>en</strong>tos da companhia,<br />

os materiais são classifi cados, comprimidos e preparados<br />

para a exportação em pacotes e contêineres.<br />

A GS não faz a limpeza dos objetos, pois<br />

considera essa atividade pouco r<strong>en</strong>tável. No <strong>Haiti</strong>,<br />

não há fábricas que reciclem o material processado<br />

pela GS; ele é exportado para a China, Índia,<br />

Coréia, Taiwan, Tailândia, México, USA, Canadá e<br />

Brasil. A partir de 2009, contudo, a empresa deu<br />

início a atividades de reciclagem, transformando<br />

restos de borracha de sandálias e sapatos em chinelos<br />

novos, atividade que <strong>en</strong>volve cerca de 50 empregados.<br />

Segundo os funcionários, o negócio logo<br />

seria expandido, incluindo exportações para o<br />

mercado africano.<br />

Embora até o mom<strong>en</strong>to de realização da pesquisa,<br />

n<strong>en</strong>huma dessas empresas t<strong>en</strong>ha sido convidada<br />

a participar da Table sectorielle de gestion<br />

des <strong>déchets</strong> solides (Mesa Setorial de Gestão do Lixo<br />

Sólido) que, como veremos no ponto seguinte,<br />

foi criada pelo Ministério de Obras Públicas, em<br />

2009, é claro que elas ocupam um lugar c<strong>en</strong>tral no<br />

universo social do lixo. São compradoras de objetos,<br />

oferecem serviços e intervêm de forma certam<strong>en</strong>te<br />

interessada na gestão estatal do problema –<br />

como concorr<strong>en</strong>tes ou como sócias pot<strong>en</strong>ciais das<br />

instituições públicas. Nesse s<strong>en</strong>tido, o que elas fazem<br />

ou deixam de fazer tem impacto sobre a população<br />

que mora na área pesquisada. Assim, observa-se<br />

como assuntos que poderiam ser tidos como<br />

“locais” articulam-se com o processo de maior<br />

escala; neste caso, com a mecânica da burocracia<br />

estatal, com a lógica concorr<strong>en</strong>cial das empresas<br />

e com as relações às vezes t<strong>en</strong>sas <strong>en</strong>tre os princípios<br />

do mercado e da política.<br />

11. LIXO É POLÍTICA<br />

“Lixo é política” é uma afi rmação polissêmica<br />

e recorr<strong>en</strong>te no universo pesquisado. Vejamos como<br />

ela surge em alguns atores e contextos.<br />

No <strong>Haiti</strong> e especifi cam<strong>en</strong>te em Porto Príncipe,<br />

o mundo social do lixo está intrinsecam<strong>en</strong>te ligado<br />

às atividades do Estado, da cooperação internacional<br />

e das ONGs. As razões disso são múltiplas, complexas<br />

e dep<strong>en</strong>dem de perspectivas que são igualm<strong>en</strong>te<br />

diversas. Nos debates internacionais sobre<br />

pobreza, desigualdade e des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to, a “questão<br />

do lixo” é recorr<strong>en</strong>te (por exemplo, ela faz parte<br />

da Ag<strong>en</strong>da do Milênio, da ONU 33 ) e invoca assuntos<br />

tais como saneam<strong>en</strong>to, saúde e meio ambi<strong>en</strong>te.<br />

Mas o lixo também está intimam<strong>en</strong>te relacionado<br />

com questões muito s<strong>en</strong>síveis politicam<strong>en</strong>te.<br />

É comum <strong>en</strong>tre os ag<strong>en</strong>tes externos atribuir às populações<br />

pobres que moram nas áreas mais degradadas<br />

da cidade uma int<strong>en</strong>sa politização ligada<br />

aos períodos de violência da década de 1990 e primeira<br />

metade da de 2000. A partir daí, associamse<br />

pobreza e désordre (desordem). Trata-se de uma<br />

palavra igualm<strong>en</strong>te ambígua, que d<strong>en</strong>ota o s<strong>en</strong>tido<br />

de desarrumação ligado à falta de infraestrutura<br />

e à pres<strong>en</strong>ça maciça de lixo, mas também e, sobretudo,<br />

um s<strong>en</strong>tido ligado à violência. No campo<br />

semântico da violência no <strong>Haiti</strong>, essa palavra pode<br />

ser usada tanto como diagnóstico de uma situação<br />

sem ordem quanto como ameaça de produção<br />

da desordem. Zonas ac<strong>en</strong>tuadam<strong>en</strong>te estigma-<br />

30 É interessante observar que quase todas as empresas<br />

visitadas declararam trabalhar para a MINUSTAH,<br />

como se isso fosse o ponto mais importante de seu currículo<br />

empresarial.<br />

31 No período da pesquisa de campo, o acesso a Truitier<br />

estava s<strong>en</strong>do reformado pelo Ministério de Obras Públicas,<br />

num projeto fi nanciado pelo BID.<br />

32 Segundo disseram os dirig<strong>en</strong>tes da empresa, eles não<br />

compram vidro porque os preços de rev<strong>en</strong>da são excessivam<strong>en</strong>te<br />

baixos.<br />

33 Consta do objetivo sétimo, referido à preservação do<br />

meio ambi<strong>en</strong>te.<br />

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