déchets. stigmatisations, commerces, politiques ... - Viva Rio en Haiti

96 | LIXO
de julgamentos sobre a qualidade dos produtos e
da natureza das relações de clientela (pratik) entre
vendedores e compradores. 20
Os pontos de compra / venda de metais são
geridos por homens, em geral jovens. Alguns são
eles próprios os donos do negócio, proprietários
da balança. Outros funcionam como pontos de
uma rede controlada por intermediários que possuem
várias outras delas. Em sua localização e no
controle dos pontos de compra / venda, bem como
em relação a tudo na geografi a social dos mercados
em Porto Príncipe, há questões relativas à política
de ocupação dos espaços. Existem, evidentemente,
pontos tidos como melhores do que outros.
Os mais interessantes comercialmente são aqueles
localizados nas ruas de maior circulação ou naquelas
onde se é possível chegar e sair transportando
carros de mão (brouettes), o que não é possível,
por exemplo, nos corredores estreitos ou nas
pequenas ruelas.
Alguns proprietários das balanças, tanto os
que controlam uma ou duas delas, quanto os maiores,
que possuem várias, mantêm uma longa relação
com o mundo do lixo: eram antigos empregados
encarregados por outros donos de um ponto
de vandè pa pèz, alguns tendo sido iniciados antes
ainda como kokorat, por exemplo.
Há depósitos de ferro nos quais os maiores
intermediários da área estocam, antes de vender,
o material que será transportado em caminhões,
caminhonetes ou tap taps alugados. Em todos os
casos, o ponto de venda fi nal é a empresa GS, localizada
na Route de l’Aéroport. Como veremos mais
à frente, a GS é a principal compradora de lixo da
zona metropolitana de Porto Príncipe. A ela chegam
grandes vendedores ou catadores individuais
com quantidades variadas de metais, plástico,
papelão e borracha. A GS compacta os objetos,
os acondiciona em contêineres e os prepara para
a exportação (fotos 19, 20).
Há também outros circuitos de metais que
mobilizam volumes menores. Trata-se dos ateliês
de fabricação de lâmpadas de querosene, dos ateliês
de fogões para carvão (réchauds) e, principalmente,
dos ateliês de panelas de alumínio (chaudières).
Esses três tipos de ateliês fabricam também
outros utensílios domésticos, especialmente
de cozinha, como colheres, por exemplo. Apesar de
se espalharem por toda a área da pesquisa, há certos
lugares onde sua presença é mais intensa (fotos
21, 22 e 23).
Os ateliês de lâmpadas de querosene concentram-se
num ponto da microrregião 3, na Av. La
Saline, já na fronteira com o Marché Croix de Bossales.
Eles compram como matéria-prima basicamente
latas e pedaços de ferro, transformados nos
objetos a serem posteriormente vendidos nos vários
mercados e feiras da cidade.
O principal mercado de metal ligado aos ateliês,
no entanto, é o do alumínio utilizado na indústria
de panelas. Ele é comprado de catadores que
“caçam” o alumínio nos lixões. Os ateliês de panelas
espalham-se por vários locais da zona (concentram-se
nas microrregiões 3 e 5) e, por sua vez, inserem-se
no circuito de comercialização do plástico
que alimenta o fogo das fundições. 21 Além da
GS, os ateliês de fabricação de panelas de alumínio
são os principais pontos de venda de plástico para
os catadores. Assim, juntamente com aqueles que
catam alumínio, chegam outros tantos continuamente
com sacos e carros de mão cheios de objetos
de plástico e borracha. Em algumas horas do dia,
a localização desses ateliês que utilizam o plástico
como principal fonte de energia para fundir o
alumínio pode ser reconhecida por densas colunas
de fumaça negra.
As unidades de medida que servem para calcular
o preço do plástico são sacos de diferentes
tamanhos. O maior deles é o bal, transportado em
carros de mão e vendido entre 50 e 100 gourdes. O
preço do alumínio, como já dissemos, é calculado
por peso — paga-se entre 5 e 15 gourdes a libra.
Nas variações de preços pesam os dois elementos
apontados acima: apreciações sobre a qualidade
dos objetos e natureza das relações entre vendedores
e compradores.
Os recipientes de plástico vazios e que se encontram
em bom estado, sem furos e com tampas
adequadas, inserem-se ainda num outro circuito,
o mais valorizado dos objetos de plástico: o circuito
de recipientes reaproveitáveis. Na fronteira
do mercado Croix de Bossales, numa área específi
ca da microrregião 2, podem ser vistos vários
pontos de compra de recipientes. Eles são vendidos
no mesmo local após terem sido enchidos com
outros líquidos, como óleo, gasolina, sabão e álcool
(fotos 24, 25 e 26).
A compra / reaproveitamento / venda de recipientes
de plástico situa-se no topo da hierarquia
dos circuitos comerciais do lixo. No extremo
oposto, encontra-se o uso do plástico como energia,
mas já não nos ateliês de panelas e sim no es-