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déchets. stigmatisations, commerces, politiques ... - Viva Rio en Haiti

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mo pudemos comprovar em <strong>en</strong>contros com vários<br />

dos atores que dela participam e na própria reunião<br />

da Mesa Setorial, as difer<strong>en</strong>ças de perspectivas<br />

e a complexidade dos <strong>en</strong>jeux, ao mesmo tempo<br />

que obrigam a valorizar essa iniciativa, também<br />

impõem prudência quanto aos resultados concretos<br />

que ela possa gerar.<br />

As agências de cooperação internacional igualm<strong>en</strong>te<br />

apres<strong>en</strong>tam pontos de vista e ações diversifi<br />

cados. Algumas c<strong>en</strong>tram a sua interv<strong>en</strong>ção no<br />

fi nanciam<strong>en</strong>to da elaboração e na implem<strong>en</strong>tação<br />

de projetos compre<strong>en</strong>sivos e estratégicos a serem<br />

aplicados pelo Estado. Esse é o caso notadam<strong>en</strong>te<br />

da AFD. As outras agências multilaterais des<strong>en</strong>volvem<br />

iniciativas mais diversifi cadas. No BID, por<br />

exemplo, um dos setores coincide pl<strong>en</strong>am<strong>en</strong>te com<br />

a AFD e só apóia projetos do governo nacional, como<br />

a melhoria do acesso a Truitier. No <strong>en</strong>tanto,<br />

outros departam<strong>en</strong>tos do BID fi nanciam projetos<br />

pontuais implem<strong>en</strong>tados por ONGs, notadam<strong>en</strong>te<br />

algumas ações do <strong>Viva</strong> <strong>Rio</strong> em Bel Air.<br />

Um caso muito difer<strong>en</strong>te é o do PNUD que,<br />

apesar de ser uma agência multilateral e não uma<br />

ONG, está <strong>en</strong>volvido na implem<strong>en</strong>tação de uma iniciativa<br />

de interv<strong>en</strong>ção comunitária que vem s<strong>en</strong>do<br />

des<strong>en</strong>volvida há três anos no bairro de Carrefour<br />

Feuille: limpeza de ruas, instalação de lixeiras,<br />

coleta de lixo, reciclagem e – supostam<strong>en</strong>te<br />

também – comercialização de objetos reciclados.<br />

Com o apoio de um programa de cooperação sulsul<br />

(do qual participa o governo brasileiro), o projeto<br />

tem uma <strong>en</strong>orme visibilidade na mídia local e<br />

internacional, obteve prêmios e é cartão de visita<br />

das ações da ONU no <strong>Haiti</strong>, merec<strong>en</strong>do inclusive,<br />

34 Chimère é uma palavra-chave da política contemporânea<br />

haitiana, que também faz parte do campo semântico<br />

da violência no país. Ela difi cilm<strong>en</strong>te aparece<br />

como uma categoria de autoid<strong>en</strong>tifi cação; trata-se antes<br />

de uma categoria de acusação que pode ser utilizada<br />

contra pessoas “viol<strong>en</strong>tas à toa”, s<strong>en</strong>do g<strong>en</strong>eralizada<br />

para qualifi car as milícias partidárias do presid<strong>en</strong>te<br />

Jean Bertrand Aristide. Em ambos os casos (quando<br />

empregado para qualifi car uma pessoa ou um grupo), o<br />

termo chimère ecoa dois s<strong>en</strong>tidos que possui em francês:<br />

um monstro num pesadelo e um sonho estéril ou<br />

uma utopia vã.<br />

35 Durante o trabalho de campo, nos deparamos, por<br />

exemplo, com relatos que, neste mesma direção, faziam<br />

referência à “desordem” associada ao lixo durante o governo<br />

Gérard Latortue, em 2004.<br />

em 2009, a explícita promessa pública de apoio do<br />

novo delegado do secretário geral da ONU no país,<br />

Bill Clinton. 36<br />

Trata-se de uma iniciativa altam<strong>en</strong>te polêmica,<br />

alvo de duríssimas críticas por parte de outras<br />

agências e atores. Enquanto a diretora do projeto<br />

e os integrantes do comitê de gestão local falam<br />

do sucesso na limpeza do bairro (comparando-a<br />

explicitam<strong>en</strong>te com outros bairros da cidade),<br />

da geração de empregos e das possibilidades<br />

de comercialização do lixo reciclado, os críticos a<br />

ele se referem como um “contraexemplo”, basicam<strong>en</strong>te<br />

devido à sua não sust<strong>en</strong>tabilidade e ao fato<br />

de ser concebido para substituir as ações das<br />

instituições públicas e não atuar em parceria com<br />

elas. Isso coincide com as ideias expressas pelos<br />

próprios dirig<strong>en</strong>tes do projeto que, quando imaginam<br />

replicar a experiência em outras comunidades<br />

da zona metropolitana, declaram que, nesses<br />

casos, o lixo “fi caria por nossa conta”, não só em<br />

desmerecim<strong>en</strong>to do Estado, mas também das outras<br />

ONGs que agem naquelas áreas.<br />

Há aqui uma questão importante, que motiva<br />

a crítica por parte de algumas instituições de cooperação<br />

(como a AFD) e de certos ag<strong>en</strong>tes do Estado:<br />

um dos efeitos das iniciativas das ONGs (do<br />

PNUD, neste caso) seria produzir uma divisão territorial<br />

na qual projetos e ONGs exerceriam soberanias<br />

locais, pulverizando a ação unifi cadora dos<br />

poderes públicos. As palavras da diretora do projeto<br />

do PNUD, em Carrefour Feuilles, confi rma essa<br />

ideia em referência direta ao VR: “Nós podemos assumir<br />

Bel Air. A Prefeitura deverá decidir se Bel Air<br />

fi ca por conta do VR ou se nós assumimos”.<br />

36 Além do PNUD, o projeto conta igualm<strong>en</strong>te com o<br />

apoio da iniciativa privada, bancos e grandes empresas<br />

que fi zeram doações em dinheiro para a aquisição<br />

do terr<strong>en</strong>o dado à prefeitura. No local, separam-se os<br />

tipos de lixo (metais, plásticos, papelão, lixo orgânico e<br />

vidro), que são acondicionados para o reaproveitam<strong>en</strong>to<br />

posterior. O lixo inorgânico seria v<strong>en</strong>dido (à empresa<br />

GS), o orgânico, por <strong>en</strong>quanto, é <strong>en</strong>viado a Truitier. Previa-se,<br />

contudo, a compra de um novo terr<strong>en</strong>o perto de<br />

onde seria iniciado um programa de compostagem. O<br />

cartão de visita do projeto é a fabricação de pequ<strong>en</strong>os<br />

tijolos com material reciclado para substituir o carvão<br />

vegetal. Até o mom<strong>en</strong>to da pesquisa (três anos após o<br />

início do projeto), os briquetes ainda se acumulavam<br />

nos depósitos junto aos outros tipos de lixo, sem que a<br />

comercialização tivesse sido iniciada.<br />

LIXO | 105

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