Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
a morte, flor cediça,<br />
<strong>de</strong>ntro da vida. (p. 75)<br />
O nervo do conflito<br />
e <strong>de</strong>ságua num dos mais niilistas poemas da obra junqueiriana:<br />
À beira do claustro<br />
o monge se inclina<br />
e na pedra apren<strong>de</strong><br />
o que a pedra ensina:<br />
que a vida é nada<br />
com a morte por cima,<br />
que o tempo apenas<br />
este fim lhe adia (p. 76)<br />
(“Lição”)<br />
O aparecimento do ciclo <strong>de</strong> sonetos A rainha arcaica, bem como a publicação<br />
<strong>de</strong> Cinco movimentos (1982), comprovam o nascimento <strong>de</strong> um novo poeta: disposto<br />
a <strong>de</strong>frontar-se com o “códice da língua” 6 , Ivan Junqueira faz seu périplo<br />
rumo à gran<strong>de</strong>za do idioma, isto é, resolve enfrentar o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r<br />
uma ousada releitura da obra <strong>de</strong> Camões a partir do mito <strong>de</strong> Inês, a bela<br />
infanta “que <strong>de</strong>spois <strong>de</strong> ser morta foy Rainha.” (p. 86) Nessa aventura mítica<br />
e metalinguística, o poeta tece uma intrincada re<strong>de</strong> intertextual, que abarca<br />
o clássico episódio do Canto III <strong>de</strong> Os Lusíadas; a prosa <strong>de</strong> Fernão Lopes e<br />
alguns versos <strong>de</strong> Garcia <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>, Fernando Pessoa e Jorge <strong>de</strong> Lima. Não<br />
há espaço, aqui, para analisar a importância <strong>de</strong>sses 14 sonetos e, <strong>de</strong> resto, se<br />
o fizéssemos, sairíamos do tema <strong>de</strong>ste ensaio, mas é preciso dizer, ao menos,<br />
que boa parte <strong>de</strong>sses textos estão entre os melhores da língua, a exemplo dos<br />
sonetos I, II, V, VII, IX, XIII e XIV. Com relação a Cinco movimentos, o Camões<br />
inspirador é o da Lírica. Cada movimento é representado por um soneto.<br />
No todo, o conjunto, imbuído <strong>de</strong> um invulgar lirismo amoroso <strong>de</strong> cunho<br />
6 Cf. Junqueira, Ivan. Poesia reunida, p. 86.<br />
137