19.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ricardo Vieira Lima<br />

e a pompa vã dos epitáfios,<br />

que não são mais do que palavras<br />

ou frases fátuas sob as pálpebras<br />

da úmida noite em que jazes? (p. 91)<br />

(...)<br />

A eternida<strong>de</strong>? Deus? O Ha<strong>de</strong>s?<br />

Uma luz cega e intolerável?<br />

A salvação? Ou não há nada? (p. 93),<br />

– conclui o poeta, eivado <strong>de</strong> dúvidas, num tom pessimista semelhante ao do<br />

Raimundo Correia <strong>de</strong> “Fetichismo”.<br />

Mas Ivan Junqueira sabe que não há partida possível para quem apostou tudo<br />

“no infinito e na beleza” (p. 43). O poeta que acreditava que a vida era maior que<br />

a morte <strong>de</strong>scobre, enfim, que morte e vida são apenas faces <strong>de</strong> uma mesma moeda,<br />

já que somos “o princípio / e o fim, na mesma medida” (p. 53); “a um só tempo<br />

o êxtase e a agonia” (p. 79); temos “a nossa vida, sempre diante / da morte” (p.<br />

85), ou estamos “na extrema fronteira entre a vida e a morte.” (p. 43)<br />

Essa dicotomia morte/vida se apresenta <strong>de</strong> forma indissociável nos versos<br />

<strong>de</strong> “O mesmo: o terceiro”:<br />

Mas afinal somos um mesmo,<br />

tal como o fogo e a labareda<br />

ou um do outro o igual mo<strong>de</strong>lo,<br />

rebentos <strong>de</strong> uma única cepa (p. 101)<br />

e refulge, soberana, nas estrofes finais do referido “Não vês, meu pai?”:<br />

Não vês que, morto, estou vivendo<br />

em meio às névoas do teu sonho,<br />

on<strong>de</strong> sem dor me recomponho<br />

e com teu sangue afim me entendo?<br />

148

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!