19.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Fernando Henrique Cardoso<br />

pela Inglaterra como Nabuco. Mas se apaixonou pelo quê? Pela aristocracia<br />

inglesa. Então diz ele “A Inglaterra é o único país on<strong>de</strong> a aristocracia continua<br />

exercendo o po<strong>de</strong>r e sendo a classe dominante.”<br />

Nabuco também se apaixonou pela Inglaterra. Não só na sua primeira viagem,<br />

mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> jovem. Já no Recife havia lido Bagehot, sobre a Constituição<br />

Inglesa, e se apaixonou pelas instituições do país. Em seus escritos mostrou,<br />

como sabido, que na Inglaterra existe um regime parlamentar e que o regime<br />

parlamentar não é propriamente fruto <strong>de</strong> Montesquieu, porque o Executivo<br />

e o Legislativo estão casados. Entretanto, diz Nabuco, acontece que, estando<br />

casados, o Executivo e o Legislativo, há uma sensibilida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> da<br />

opinião pública na relação com a Câmara. “Quando há uma mudança <strong>de</strong><br />

opinião a Câmara também muda, pois po<strong>de</strong>-se pedir sua dissolução e não<br />

é o rei quem a dissolve”. Neste ponto compara com o que ocorria no Brasil,<br />

on<strong>de</strong> era o imperador que, formalmente na escuta da opinião nacional,<br />

dissolvia a Câmara para reequilibrar o sistema. Mas era o imperador quem<br />

agia. Na Inglaterra não. Nabuco se entusiasma com a Inglaterra em função<br />

dos mecanismos <strong>de</strong>mocráticos vigentes. Para ele o que caracterizava, o que<br />

assegurava realmente à Inglaterra uma posição especial no sistema político é<br />

que a força política equilibradora e efetiva residia no Judiciário, na <strong>de</strong>cisão do<br />

juiz. Há um texto em que Nabuco diz com todas as letras, <strong>de</strong> que modo via<br />

a política na Inglaterra: “Somente na Inglaterra po<strong>de</strong>-se dizer que há juízes.<br />

Só há um país no mundo em que o juiz é mais forte do que os po<strong>de</strong>rosos. O<br />

juiz sobreleva à família, à aristocracia, ao dinheiro e o que mais que tudo, aos<br />

partidos, à imprensa, à opinião. Não tem o primeiro lugar no Estado, mas<br />

tem na socieda<strong>de</strong>.” E dá um exemplo: “O Marquês <strong>de</strong> Salzburg e o Duque <strong>de</strong><br />

Westminster estão certos <strong>de</strong> que diante do juiz são iguais ao mais humil<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua criadagem.”<br />

Esse sentimento da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos, ou da pessoa mesmo na mais<br />

extrema <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fortuna, é a condição, é o fundo da dignida<strong>de</strong> anglo-<br />

-saxã. Vê-se assim a diferença entre um conservador verda<strong>de</strong>iro – Tocqueville<br />

– apesar <strong>de</strong> brilhante e analista capaz, e alguém, como Nabuco, que não tem<br />

essa sensibilida<strong>de</strong> conservadora. O que este último via na Inglaterra não era<br />

26

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!