Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Fernando Henrique Cardoso<br />
Em suma, não é preciso reafirmar aqui, até porque o propósito <strong>de</strong>ste Ciclo<br />
foi o <strong>de</strong> prestar uma homenagem, que Nabuco foi um homem fora <strong>de</strong> série,<br />
um homem excepcional. E eu me <strong>de</strong>sculpo, para finalizar, dizendo o seguinte.<br />
Eu não sei ler. Escrevi muitas páginas, mas na hora <strong>de</strong> fazer uma exposição<br />
penso comigo mesmo, melhor não ler porque vai ser muito difícil. Eu não sei<br />
ler com graça e tenho uma inveja imensa <strong>de</strong> quem o sabe. Assisti uma vez a<br />
uma conferência <strong>de</strong> um antropólogo, chamado Edmund Leach, em que ele<br />
<strong>de</strong>screvia a solenida<strong>de</strong> na qual foi tornado cavaleiro, knight, pela rainha. Ele<br />
leu a conferência em um teatro. Eu fiquei fascinado. Foi, em Princeton, que<br />
eu ouvi o Leach, embora fosse professor <strong>de</strong> Cambridge. Tive também um<br />
professor, vocês conhecem, Raymond Aron. Ele lia as aulas, na Sorbonne. Eu<br />
ficava extasiado. Porque eu não sei fazer isso. Eu sei escrever artigo. Quando<br />
terminei <strong>de</strong> escrever esta conferência eu disse: “Meu Deus, eu fiz um artigo!<br />
Não vou po<strong>de</strong>r ler isso!” Então me <strong>de</strong>sculpo, perante vocês, pois eu não podia<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> vir aqui, mesmo com minhas insuficiências, para me juntar às homenagens<br />
a Nabuco e para ren<strong>de</strong>r meu preito <strong>de</strong> gratidão a todos os amigos que<br />
aqui estão. Muito obrigado.<br />
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