19.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A arte é pura matemática<br />

como <strong>de</strong> Bach uma tocata<br />

ou <strong>de</strong> Cézanne a pincelada<br />

exasperada, mas exata. (p. 145)<br />

O nervo do conflito<br />

Após uma primeira tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição, o poeta, que preten<strong>de</strong> que a arte<br />

seja concebida com o que chama <strong>de</strong> ostinato rigore, ou seja, “a curva austera das<br />

arcadas / ou o rigor <strong>de</strong> uma pilastra” (p. 145), prossegue:<br />

enfim, nada que lembre as dádivas<br />

da natureza, mas a pátina<br />

em que, domada, a vida alastra<br />

a luz e a cor da eternida<strong>de</strong>. (p. 145)<br />

Observe-se que, para Junqueira, importa construir uma arte banhada <strong>de</strong><br />

vida, com “a luz e a cor da eternida<strong>de</strong>”. Essa i<strong>de</strong>ia é ratificada na estrofe final<br />

do poema:<br />

Despencam, secas, as grinaldas<br />

que o tempo pendurou na escarpa.<br />

Mas dura e esplen<strong>de</strong> a catedral<br />

que se ergue muito além das árvores. (p. 145)<br />

As grinaldas, com o passar do tempo, secam e morrem. Mas a catedral, metáfora<br />

da arte e do homem, dura, esplen<strong>de</strong> e se ergue “muito além das árvores”.<br />

Essa permanência do homem, por meio da arte que ele produz ou consome<br />

– arte esta que se <strong>de</strong>stina a eternizá-lo –, é retomada no melhor poema<br />

da obra, “Terzinas para Dante Milano”. Numa comovida e comovente homenagem<br />

ao amigo morto, Ivan agra<strong>de</strong>ce a Milano pelo que este lhe <strong>de</strong>u: um<br />

“íntimo segredo / que me fez teu her<strong>de</strong>iro e teu irmão.” (p. 155) Mas qual<br />

seria esse segredo? A resposta está contida na mais bela estrofe da o<strong>de</strong>:<br />

143

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!