A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
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Ele passou a mão pelos olhos, corou, e disse entredentes:<br />
— Não! Juro que serei forte! Juro que terei brio!<br />
Havia chegado defronte da porta de Jorge.<br />
Bateu na rótula.<br />
XXVII<br />
O DENTE DE COELHO<br />
Veio abrir a velha Benedita.<br />
Gabriel arquejava.<br />
A sua aparição, ali na casa do cocheiro, produziu alvoroço, tanto em<br />
Ambrosina, como em Laura. Esta, porém, retirou-se discretamente, deixando<br />
os amantes em completa independência, e a outra tratou de esconder a sua<br />
comoção.<br />
Toda a retórica, que o rapaz tinha alinhado previamente em seu espírito,<br />
como quem prepara a artilharia para uma batalha, espalhou-se e voou desfeita<br />
ao primeiro olhar de Ambrosina. Ao tomar nas suas mãos a mãozinha branca e<br />
suave da formosa moça, nem mais se lembrava ele de uma única palavra de<br />
imprecação. Foi com o aspecto triste e combalido que a contemplou da cabeça<br />
aos pés.<br />
Assentaram-se defronte um do outro silenciosamente.<br />
— Então, sempre lhe mereci uma visita?... disse ela com frieza, para<br />
principiar a conversa.<br />
— Venho despedir-me... respondeu Gabriel, quase em tom de quem<br />
pede desculpa.<br />
Ali, parecia ser ele o delinquente, e ela a queixosa.<br />
— Despedir-se?... perguntou Ambrosina, evidentemente surpreendida<br />
com as palavras da visita, mas dissimulando a sua surpresa.<br />
— É! balbuciou ele; vou partir...<br />
— Eu já o sabia... disse a ensoneira, com ar de pouco caso.<br />
— Como já sabia!<br />
— Tinha um pressentimento...<br />
— Ah!<br />
— E calaram-se.<br />
— Vai para muito longe?.. perguntou ela depois, cerimoniosamente.<br />
— Não sei... creio que sim<br />
— Não tem destino então?<br />
— Ignoro ainda aonde irei parar!<br />
E Gabriel teve um olhar sinistro.<br />
— Deixou isso naturalmente ao cuidado do padrasto, observou ela,<br />
chamando aos lábios um rizinho zombeteiro.<br />
— Não! volveu Gabriel; eu vou só.<br />
— Ambrosina estremeceu.<br />
— Só! Então não vai em companhia do Médico misterioso?<br />
— Não.<br />
— Mas que significa essa viagem?...<br />
Gabriel ergueu-se, foi até à cadeira de Ambrosina, tomou as mãos desta,<br />
e disse arrebatadamente:<br />
— Significa que não posso viver ao teu lado, e não posso viver sem ti!<br />
significa que sou o mais desgraçado dos homens, e tu a mais cruel das<br />
mulheres!<br />
— Tudo isso é falso...<br />
— Ah! descansa, que, ainda mesmo se me fosse possível ligar-me de<br />
novo a ti, eu não o faria! É preciso que eu nunca mais te veja, é preciso que eu<br />
arranque do coração todo este vergonhoso amor que me devora! Acha-se nisso<br />
empenhada a minha dignidade! Irei, seja lá para onde for, contanto que me<br />
afaste de ti!...<br />
— Eu irei contigo! disse Ambrosina..<br />
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