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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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Gaspar, de braços cruzados ao fundo da sala, olhava para todos eles,<br />

com um ar sombrio. Só Genoveva dera com a sua presença, e desde então lhe<br />

acompanhava o movimento dos olhos.<br />

Gaspar atravessou a sala e foi bater no ombro do enteado. Gabriel voltou<br />

a si e o encarou atônito.<br />

— Avia-te! segredou o médico; temos que sair daqui imediatamente!<br />

— Para onde?..<br />

— Para o diabo, mas avia-te!<br />

Gabriel levantou-se, cambaleando.<br />

— Para onde me queres levar?...<br />

— Em caminho conversaremos. Anda dai!<br />

E Gaspar segurou-o pelos braços, na esperança de aproveitar o estado<br />

de quase inconsciência de Gabriel.<br />

— E Ambrosina?.. perguntou este.<br />

— Virá depois.<br />

— Não! Eu só irei com ela!<br />

— Ela não pode vir!<br />

— Por quê?...<br />

— Porque não!<br />

— Então, larga-me!<br />

— Gabriel, atende ao teu único amigo! Repara que estás cercado de<br />

vergonhas! Olha que é a perdição que se respira aqui!<br />

— Se Ambrosina merecesse tal dedicação, vá! porém, ela, desgraçado,<br />

zomba de ti! engana-te com outro!<br />

— Mentes, miserável!<br />

— Não sei! deixa-me!<br />

— Nada de bulha, e ouve o que te digo... Prometes acompanhar-me, se<br />

eu te provar a infidelidade de Ambrosina?...<br />

— Prometo!<br />

— Pois vem cá. Não faças rumor com os pés... atravessemos este<br />

corredor... Bem! agora passemos por este lado do jardim... Espera; reprime<br />

um pouco a respiração e abafa os teus passos... Agora entremos nesta<br />

alameda... Aí! Olha por entre estes galhos... O que vês?<br />

A propria embriaguez e a sombra das folhas não permitiram logo a<br />

Gabriel reconhecer a amante nos braços de Melo Rosa; mas, pela voz dos dois<br />

e pelo que diziam, certificou-se num relance de que era traído e precipitou-se<br />

com fúria sobre eles, exclamando como um louco:<br />

— Infames! Infames!<br />

Gaspar, porém, senhoreou-se vigorosamente do enteado, enquanto<br />

Ambrosina e o Melo corriam pelo jardim.<br />

— Larga-me! bradava Gabriel, procurando escapar das mãos do<br />

padrasto; larga-me, ou enlouqueço!<br />

— Não! daqui sairemos juntos. Nem voltarás lá dentro; nada tens que<br />

fazer nesse covil de miseráveis! Saiamos pelo portão do jardim, amanhã<br />

mesmo partiremos para o Rio de Janeiro!<br />

— Deixa-me! deixa-me! insistia Gabriel.<br />

Melo Rosa conseguiu ganhar a rua e fugir, justamente quando o amante<br />

iludido lograva escapar dos braços do amigo.<br />

Esta cena levantou grande rumor, pondo em sobressalto os que estavam<br />

na casa. Mas na ocasião em que Gabriel se dispunha a perseguir o Melo Rosa,<br />

ouviu-se um bramido terrível e em seguida um grito de Ambrosina:<br />

— O louco!<br />

Com efeito, era Leonardo que surgia. Há dois dias fugira do hospital e<br />

vagava foragido pelas ruas do arrabalde, até que o acaso lhe fizera dar com a<br />

casa da mulher.<br />

Genoveva tivera tempo de fechar a porta da sala, mas o doido, com um<br />

empurrão, metera-se dentro, produzindo formidável estrondo.<br />

O amigo do Melo, que dormia num canapé, acordou sobressaltado e<br />

corria à toa pelos quartos. Alfredo, tiritando de susto, ganhou um canto da sala<br />

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