A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
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em particular, quando se achava a só com a mãe, tinha para esta palavras de<br />
filha e pedia-lhe desculpa daquelas brutalidades. Genoveva, porém, não se<br />
consolava e, apesar das suas abstrações de demente, preferiu que a metessem<br />
num hospital, e no fim de contas lá morreu, inteiramente desamparada.<br />
Ambrosina chorou nesse dia, mas, para não dar na vista, foi até ao<br />
Alcazar, e não deitou luto.<br />
Pouco depois, Gustavo lhe apareceu uma bela manhã mais expansivo, e<br />
tomando-a pela cintura, disse-lhe que tinha arranjado um emprego rendoso, e<br />
queria propor-lhe uma cousa...<br />
— O que vem a ser?... perguntou ela.<br />
— Oh! uma cousa muito séria, cuja realização depende exclusivamente<br />
da resposta que me deres ao que te vou perguntar!<br />
— O que é?<br />
— Diz-me francamente, Ambrosina, tu me amas?...<br />
Ambrosina olhou em silêncio para ele, e riu-se.<br />
— Não zombes... Responde! Preciso saber se me amas deveras!...<br />
— Mas para quê?...<br />
— Preciso... Responde!<br />
— Dize primeiro para que é...<br />
— Pois bem; ouve: preciso saber se deveras me amas, porque se assim<br />
for, quero que despeças todos os teus amantes e fiques somente comigo!<br />
— Ora essa! Para quê?... e por quê?...<br />
— É boa! Porque te adoro! porque preciso de ti para viver! porque não<br />
posso continuar a suportar as tuas relações com outros homens! Agora, que já<br />
tenho um ordenado, desejo dividi-lo honestamente contigo, na paz de uma<br />
existência confessável, e trabalhar muito! Mas, para a realização de todos<br />
esses sonhos, é indispensável primeiro saber se me amas por tal forma que<br />
sejas capaz daquele sacrifício...<br />
Ambrosina não respondeu; ficou a cismar.<br />
— Então?... insistiu Gustavo, responde, minha amiga! uma palavra tua<br />
dar-me-á mais coragem que todos os clamores do meu caráter! Lembra-te de<br />
que por ti esqueci tudo, desviei-me do meu futuro, cortei minha carreira,<br />
acovardei-me, perdi-me! Vamos! Não me queiras obrigar agora a amaldiçoar o<br />
destino que nos aproximou! Fala! Diz-me alguma cousa!<br />
— Mas o que queres tu que eu te diga?...<br />
— Quero que me digas se me amas e se és capaz de um sacrifício por<br />
esse amor; se tens, finalmente, alguma cousa no coração que te dê ânimo<br />
para esquecer todo o passado, abdicar do luxo, privar-te dos prazeres<br />
ruidosos, e viver só comigo e exclusivamente do nosso amor! Fala! Dize! Lavra<br />
a minha sentença!<br />
Ambrosina fez um ar concentrado, foi até ao sofá, assentou-se, cruzando<br />
as pernas e deixando-se cair sobre as almofadas; depois ofereceu a Gustavo<br />
um lugar ao pé de si, e disse-lhe:<br />
— Queres que te fale com toda a franqueza?<br />
— Decerto.<br />
— Olha lá!<br />
— Não quero outra cousa.<br />
— Talvez venhas a arrepender-te e nesse caso o melhor é ficarmos<br />
calados...<br />
— Não! Fala!<br />
— Bem; vais ouvir então o que nunca imaginaste, nem eu a ninguém<br />
revelaria espontaneamente... vais saber de cousas minhas, cuja<br />
transcendência nem compreenderás talvez. Vou levantar a lousa de meu<br />
coração e consentir que, pela primeira vez alguém penetre nele. Coragem, e<br />
escuta!<br />
Gustavo estremeceu da cabeça ao pés, e concentrou-se an<strong>sio</strong>so, com a<br />
alma suspensa dos rubros lábios de leoa.<br />
XLIV<br />
VIVA NAPOLEÃO!<br />
— Toda e qualquer mulher, principiou a Condessa Vésper, uma vez<br />
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