A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
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— É aqui mesmo da Corte ou é da província?... perguntou ainda a<br />
primeira, com um sotaque francês muito pronunciado.<br />
— De Pernambuco, minha senhora.<br />
E Gustavo, desta vez reparou que a bonita o observava debaixo dos<br />
cílios.<br />
— Nunca tinha vindo ao Rio?...<br />
— Nunca minha senhora.<br />
E pensou consigo. Mas que olhos tem aquele diabinho!<br />
— E tem gostado da Corte?...<br />
— Nem por isso, minha senhora. Ainda estou desempregado.<br />
E desta vez descobriu nos lábios da irmã dos lindos olhos a pontinha de<br />
um sorriso.<br />
"Faço-me jardineiro neste colégio!" pensou ele, sob a influência dos olhos<br />
da rapariga.<br />
— Mas... disse, procurando voltar ao principal assunto da sua visita; V.<br />
V. Ex. as precisam de mim...?<br />
— E sua província é bonita?... interrompeu a irmã curiosa, sempre a<br />
olhar para o chão.<br />
— Sou suspeito para responder, minha senhora. Mas, como dizia... Acaso<br />
V. V. Ex. as precisam...?<br />
— E há muitos colégios em Pernambuco?<br />
— Mau! disse Gustavo consigo, depois de responder alto que sim.<br />
— O ensino é muito religioso?<br />
— Sim, minha senhora.<br />
— Pagam bem às professoras?<br />
— Regularmente, minha senhora.<br />
— E o clima, que tal é?<br />
— Quente!<br />
— E a alimentação?<br />
— Comum!<br />
— E o povo?<br />
— Bom!<br />
— Dizem que desordeiro!.<br />
— Histórias!<br />
— E a cidade, é divertida?<br />
— Nem sempre!<br />
— Há passeios públicos?<br />
— E teatros também, bailes, cafés, bilhares, há de tudo! Dançarinas de<br />
cancã e pândegas carnavalescas!<br />
— Ah! exclamou a religiosa com um gesto de pudor.<br />
E só abriu de novo a boca, para inquirir:<br />
— O senhor sabe quem tenha para alugar uma rapariga que entenda de<br />
cozinha?...<br />
— Não, minha senhora.<br />
— Se souber, é favor mandá-la cá<br />
— Pois não, minha senhora.<br />
— Quanto ao senhor, não o podemos aceitar, porque só admitimos<br />
professores eclesiásticos de reconhecida virtude...<br />
— Então, tenha a bondade de dar-me as suas ordens...<br />
— Deus o ajude!<br />
E as religiosas viraram de bordo, depois de uma cortesia. Gustavo<br />
ganhou a porta, mas na ocasião de sair, voltou o rosto, e seu olhar encontrou<br />
no caminho o da rapariga bonita, que lá do extremo oposto da sala lhe atirou<br />
um sorriso franco e já de joelhos levantados.<br />
No corredor estava a criada, à espera dele, para o conduzir à chácara.<br />
Gustavo chegou afinal à rua.<br />
— Apre! exclamou; que francêsa cacête, mas que linda menina!...<br />
E à medida que ele, a retroceder lentamente pela praia de Botafogo, se<br />
afastava do colégio das irmãs de caridade, a sua imaginação, moça e fogosa,<br />
voltava para lá, a galope.<br />
E a endiabrada ia saltando grades, atravessando quartos, até chegar à<br />
perfumada cela da linda religiosa de olhos meigos. Encontrou-a sozinha, a<br />
rezar no seu oratório. O grosseiro burel do hábito não permitia que se lhe<br />
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