A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
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outro, viviam juntos, como se desfrutassem com efeito a mais saborosa das<br />
luas-de-mel. Cada um deles trazia no dedo uma aliança, e na medalha do<br />
relógio ou do broche o retrato do consorte.<br />
Contudo, não se descuidavam um só instante do principal objeto da<br />
viagem; conseguiram apanhar o encalço do fugitivo, e Violante desenvolveu<br />
nas suas pesquisas uma tal sagacidade e finura de raciocínio, que fariam o<br />
desespero do melhor polícia.<br />
Paulo tinha passado do Brasil para a República Argentina, depois para o<br />
Chile, depois para a Bolívia e afinal para o Peru.<br />
Gaspar, ao fim de alguns meses, já não podia suportar aquela vida<br />
airada. Estava sempre em vésperas de viagem e gastava os dias a tomar<br />
informações sobre o perseguido. Ora, fossem lá descobrir o homem das<br />
calças pardas! Vivia prostrado de tanto viajar; além disso a ausência completa<br />
de estabilidade impedia que ele se correspondesse com a família.<br />
Uma vez, estava então no Chile, descobriu nos correios de S. Tiago uma<br />
carta de seu pai. O pobre velho queixava-se amargamente do procedimento<br />
do filho, dizia ter-lhe já escrito duas longas cartas, das quais não recebera<br />
respostas, havendo aliás em uma delas lhe dado a participação do casamento<br />
de Virgínia, irmã mais moça de Gaspar.<br />
Este acabou por fazer justiça à palavra do coronel, pedindo-lhe que lhe<br />
escrevesse para o Chile e lhe comunicasse o nome do marido de Virgínia.<br />
Mas, pouco depois disto, Gaspar teve de seguir com Violante para o<br />
México, ficando na ignorância do nome do cunhado. Estava completamente<br />
resolvido a voltar para o Brasil; agora, porém, uma nova dificuldade se lhe<br />
antolhava: é que já não tinha ânimo de separar-se da suposta esposa. A<br />
convivência criara entre eles uma tal reciprocidade de estima, que os dois<br />
acabaram por se tornar indispensáveis um para o outro.<br />
Viviam na mais feliz intimidade, mas particularmente separados para<br />
todos os efeitos conjugais. E isto apoquentava em extremo o pobre moço. Por<br />
várias vezes se viu ele em situações bem ridículas, que o levavam ao<br />
desespero; uma ocasião, por exemplo, tinham de pernoitar no único hotel que<br />
havia no lugar, e só existia no quarto uma cama para os dois. Violante não<br />
hesitou em aceitá-lo, a despeito dos sinais negativos que fazia o falso marido<br />
por detrás do estalajadeiro.<br />
E logo que ficou a sós com ele, disse-lhe:<br />
— O senhor se tem portado tão bem para comigo, que seria fazer-lhe<br />
uma injustiça suspeitar do seu caráter ou recear a sua conduta...<br />
— Mas é que não devemos abusar, respondeu Gaspar, um pouco<br />
contrariado. O sacrifício tem limites! Ora essa!<br />
— Que sacrifício?.<br />
— Que sacrifício?! pergunta-me a senhora. Acaso merecerá outro nome o<br />
que faço, desde que a acompanho embrulhado no incômodo disfarce de seu<br />
marido!... Poderá a senhora calcular o que é viver com uma mulher<br />
encantadora, ver nos outros o ar de inveja causado por uma felicidade que não<br />
existe, afetar os confortos do amor satisfeito e completo, e não obstante,<br />
sofrer o mais cruel isolamento que se pode impor a um homem da minha<br />
idade!... Confesso-lhe, minha senhora, que se há alguma virtude no meu<br />
procedimento, ela me tem custado enormes sacrifícios!<br />
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