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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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emédio?... Meu gênio foi sempre este!... Nunca fui de expansões... Olhe, se<br />

promete visitar algumas vezes minha família, pode ser que, com a convivência,<br />

venha a contar-lhe os meus segredos; mas, por agora, não lhe direi uma<br />

palavra...<br />

O moço ficou a pensar. Que estranho era o coração daquela rapariga!...<br />

Que mistério poderia haver naquela alma quase infantil?...<br />

E Gabriel afinal partiu.<br />

Ambrosina, ao se despedir-se dele, estendeu-lhe a mão expansivamente<br />

e disse-lhe, arrependida e cheia de mágoa:<br />

— Não me fiquei tendo ódio... seja meu amigo; compreenda que sou eu<br />

menos culpada de tudo o que se passou entre nós dois!...<br />

— Ah! se a senhora me amasse! se me houvesse compreendido!...<br />

exclamou o desgraçado.<br />

— E pensa que não?... Só eu sei o que sofri por sua causa!...<br />

Gabriel segurou-lhe as mãos.<br />

— Então ainda me ama?! Responda!<br />

— Mais tarde o saberá... por enquanto, ausente-se de mim... Adeus.<br />

E fugiu.<br />

Gabriel meteu-se lá fora no carro com o coração a saltar-lhe num grande<br />

alvoroço. Depois das palavras de Ambrosina, tudo em volta dele se alegrou e<br />

sorriu.<br />

E pelo caminho de casa ia fazer cálculos de felicidade, mas a sinistra<br />

figura do doido aparecia-lhe nos sonhos como um demônio a cabriolar no<br />

paraíso.<br />

— Ora! concluía ele; o essencial é que ela me ame!...<br />

E estalava de contentamento quando chegou à casa.<br />

No dia seguinte, o comendador expirou. Porém antes de morrer,<br />

encarregou a Gaspar de obter do pobre Alfredo o perdão do muito mal que lhe<br />

havia feito; e pediu ao marido de Ursulina, o esplenético negociante inglês que<br />

admitisse o infeliz como empregado no seu escritório comercial.<br />

A morte do comendador dissolveu o grupo que se tinha formado em casa<br />

dele. O inglês e a família retiraram-se; Gaspar fez o mesmo, e a viúva mudouse<br />

pouco depois, com a filha para o palacete da cidade.<br />

Tratou-se do inventário e, com pasmo geral, chegou-se à conclusão de<br />

que o comendador, tão opulento em vida, nem só não deixara bens, como<br />

ainda ficara devendo duzentos contos de réis à praça.<br />

Os credores caíram logo sobre a viúva e lançaram mão do que puderam.<br />

Só lhe ficou uma casinha no Engenho Novo, que havia sido comprada em<br />

nome da filha.<br />

Mãe e filha mudaram-se para lá.<br />

Ambrosina, porém, não se queria conformar com semelhante miséria.<br />

— No fim de contas, argumentava ela, sou casada com um homem<br />

remediado de fortuna e não devo levar esta vida quase de privações. Não<br />

tenho culpa de que meu marido enlouquecesse. O curador faz-me dar uma<br />

mesada, que mal chega para acudir às primeiras necessidades! Sebo!<br />

E parecia que ia repetir a frase do Reguinho.<br />

A mãe ouvia-a com um ar tolo; tudo aquilo para a pobre mulher era<br />

negócio complicado.<br />

Todavia, Gabriel, por esse tempo, freqüentava a família do Sr. Windsor.<br />

Windsor é o negociante inglês, marido de Ursulina. Este inalterável<br />

homem tomara afeição a Gabriel, e via com bons olhos a inclinação de sua<br />

filha Eugênia pelo rapaz.<br />

Gabriel aparecia-lhe regularmente duas vezes por semana, para o chá.<br />

Fazia-se então palestra à roda da mesa ou fazia-se música no salão.<br />

Eram aqueles serões tranqüilos e confortadores. Eugênia, às vezes, cosia<br />

ou bordava, e Gabriel assentava-se ao lado dela, esquecido a olhar para o<br />

movimento da agulha ou para os olhos da rapariga, abaixados sobre a costura.<br />

— Creio que já lhe mereço alguma confiança, disse-lhe ele em uma<br />

dessas vezes; por que não me revela os seus segredos?...<br />

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