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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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de minha Laura! E adeus.<br />

"O que aí vai escrito, é a expressão franca da verdade. Despejei o<br />

coração até ao fundo para ficar mais leve, e fugir-te mais ligeira; basta-me o<br />

preço que lá levo do teu dinheiro! Tens que me absolver com o teu perdão, ou<br />

me amaldiçoar com uma perseguição judicial. Não consultes para esse fim o<br />

teu coração, consulta só o teu espírito, e, conta, no primeiro dos casos, com o<br />

meu reconhecimento de bom camarada. — Ambrosina."<br />

Gabriel soluçava ao terminar a leitura. Só então erguendo o rosto, deu<br />

com Jorge, que havia entrado sem ser percebido.<br />

— Caramba! disse este. O senhor ainda aqui?! Pois não partiu?!<br />

Gabriel respondeu com um gesto desabrido, e apontou-lhe para o<br />

toucador onde se achavam as cartas.<br />

— Pois o tal Melo está seguro até à meia-noite! acrescentou o cocheiro,<br />

tomando a carta que lhe era dirigida. Mas o senhor dessa forma não pilha o<br />

vapor!...<br />

Gabriel não respondia, chorava encostado a um moóvel, com a cabeça<br />

escondida nos braços.<br />

Jorge abriu à carta, sobressaltado por ter reconhecido a letra de Laura.<br />

É proporção que lia, uma terrível palidez ganhava-lhe o semblante. Os<br />

olhos foram-se-lhe dilatando com uma expressão de espanto e desespero, os<br />

lábios se contraindo, as ventas se distendendo, até que da fronte lhe começou<br />

a porejar o frio suor das grandes agonias.<br />

De repente, passando da palidez a uma vermelhidão apoplética,<br />

escancarou a boca com um bramido de dor, e caiu de borco sobre o soalho.<br />

A casa tremeu, como se houvesse desabado ali no chão um colosso de<br />

bronze.<br />

XXXI<br />

DESTROÇOS DA TEMPESTADE<br />

A carta que lançou por terra o cocheiro Jorge era uma despedida da filha,<br />

declarando a seu modo os motivos que a arrastavam naquela viagem<br />

clandestina. Educação, temperamento, insuficiência de meio social, tudo isso<br />

ressaltava das palavras que a infeliz dirigia ao pai; este porém, nada viu nem<br />

compreendeu senão que a filha abandonava a casa paterna, e tanto bastou<br />

para fulminá-lo.<br />

Laura, todavia mostrava-se na carta muito comovida e fazia ardentes<br />

promessas de boa conduta. Nada serviu para suavizar o golpe.<br />

O pobre homem permanecia de bruços no chão. Gabriel correu a<br />

socorrê-lo, arrastou-o até a cama, e conseguiu com dificuldade estendê-lo<br />

sobre ela. Jorge não dava acordo de si, e tinha o rosto congestionado.<br />

A situação tornava-se cada vez mais penosa. Gabriel chamou várias<br />

vezes por ele, sacudiu-lhe vigorosamente os ombros. Nada! o homem<br />

continuava inanimado, a tirar da garganta uns grunhidos aterradores.<br />

O rapaz correu então à sala, abriu as janelas. Estava aflito! precisava de<br />

alguém que se encarregasse do cocheiro, porque ele não podia deixar de ir a<br />

bordo. Mas o silêncio da rua desesperou-o. A tarde fechava-se de todo, e os<br />

primeiros lampiões constelavam o arrabalde com a sua luz ainda vermelha.<br />

Gabriel deu lume a outros bicos de gás, e resignou-se a aguardar os<br />

acontecimentos. A cabeça andava-lhe aí roda e estalava de febre. Entretanto<br />

urgia tomar qualquer resolução; aquele homem podia morrer ali, se lhe não<br />

ministrassem prontos socorros!... Era preciso descobrir um médico! Que falta<br />

fazia o Gaspar naquela ocasião!...<br />

Gabriel havia já resolvido sair, a chamar algum vizinbo, quando ouviu<br />

tocar a campainha do jardim.<br />

— Enfim! disse ele, como se esperasse por quem batia.<br />

E, pouco depois, entrava na sala Genoveva, pelo braço de Alfredo.<br />

A viúva do comendador Moscoso vinha sufocada de ansiedade.<br />

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